29/09/2015

A Humanidade abandonou o planeta Terra

As mais recentes notícias sobre as descobertas de água em Marte são brilhantes, até parece que já me estou a ver ir passar uns dias de férias a um resort extraplanetário.

O entusiasmo foi tanto que só depois é que percebi nas entrelinhas que afinal não existem rios nem lagos, mas o que encontraram foi apenas sais hidratados.

O meu entusiasmo resfriou, mas o da restante humanidade parece que não. Continuam a achar que este é que é o caminho a seguir, gastar milhares de milhões de dólares para serem feitas pesquisas pouco ou nada importantes para a sustentabilidade dos seres que ainda vivem no terceiro calhau a contar do sol.
Se o negócio das armas ou o negócio da indústria farmacêutica sustentam centenas de famílias de magnatas que controlam os destinos da humanidade, o negócio das pesquizas interplanetárias deixa-me mais perplexo ainda. 
São feitos investimentos exorbitantes, na sua maioria subsidiados por diversos estados e organizações governamentais, para se ir brincar à guerra das estrelas. Só o projeto Curiosity custou 2,5 mil milhões de dólares, para se descobrir que afinal não há mesmo vida em Marte, mas ao menos encontrámos sais hidratados. Foram desencadeados projetos que visam colocar seres humanos em Marte como cobaias e onde o orçamento previsto para o programa da Mars One ronda os 5 mil milhões de dólares. O desplante é tanto que já conseguem iludir milhares de pessoas que se candidataram a um programa espacial onde só têm bilhete de ida e onde está previsto que não sobrevivam mais do que 3 meses, mas isso não importa nada, vai ser mais um grande feito desta brilhante humanidade.

Gastar 8 mil milhões de dólares para investigações surreais num planeta onde sabemos à partida que não vamos poder habitar, é algo aceitável por esta humanidade atual. Mas então e preocuparem-se primeiro em não destruir aquele planeta que ainda continua a reunir todas as condições para que possamos continuar a viver por cá durante alguns milhares de anos? E que tal investir a sério na criação de mecanismos que permitam combater e controlar a emissão de gases poluentes que estão a influenciar de forma direta as condições atmosféricas do nosso planeta? Que tal preocuparem-se também com a criação de mecanismos e programas que visem a promoção do desenvolvimento sustentável do planeta e não a degradação do meio ambiente?
A resposta a todas estas perguntas é apenas uma: isso não traz lucros às empresas multinacionais e também não interessa muito que a população tenha boa qualidade de vida, para que possa ser melhor controlada. Segundo um relatório das Nações Unidas (relatório credível ou não) estimam-se que 78 milhões de pessoas, em 22 países, necessitam de assistência humanitária urgente em 2015. Estima-se que seria necessário investir 16,4 mil milhões de dólares para prestar o auxílio a essas pessoas, mas é muito mais bonito e mediático apresentar cristais hidratados em Marte do que promover o bem-estar de toda a humanidade no planeta Terra.