O
petróleo, para a nossa civilização, ainda hoje é a matéria-prima
mais essencial, em termos energéticos e químicos.
Logo a
necessidade da sua produção, comercialização e consumo é
permanente. Mas o seu consumo não traz só benefícios económicos,
sociais e civilizacionais; durante o processo de comercialização, é
origem de grandes lucros financeiros, para aqueles que têm a
capacidade e o conhecimento de especular com ele.
Tente-se acompanhar
o esquema, que tem proporcionado retornos rápidos de investimento de
capitais às grandes companhias e aos brokers, grandes lucros
especulativos, através da imposição de preços de mercado
artificialmente elevados.
Suponha-se
que um broker adquire ao produtor um carregamento de petróleo de um
milhão de barris, a 90 dólares USD o barril, a entregar em
determinado local dai a seis meses. Paga um sinal de 9 USD por
barril, e fica com um título nas mãos, instrumento especulativo
essencial. O que é que ele precisa? De esperar? Não! De notícias,
boas ou más, e reagir de acordo com o modo como essas noticias
previsivelmente influenciam o mercado.
Quem
adquiriu, terá um ganho potencial de 10 milhões de USD, caso a
cotação se mantenha, até ao petroleiro chegar ao porto de destino.
Mas pode acontecer, que apareça nesse espaço de tempo uma má
noticia, do género o Irão tem stocks enormes à espera de
comprador, ou o inverno nos EUA não vai ser tão rigoroso como se
previa, ou um conflito armado localizado perto dos poços de petróleo
acabou antes de começar. Aqui, o actual detentor do título, não
consegue saber de antemão, se o seu lucro potencial de 10 Milhões
de USD está garantido; resta-lhe jogar pelo seguro e vender de
imediato ou esperar passivamente roendo as unhas.
Se
vender terá duas opções: vender pura e simplesmente perdendo o
menos possível, ou em alternativa vender com acordo de recompra. Na
primeira situação, realiza uma menos-valia na venda da opção. Por
exemplo vende a opção por 9,5 USD o barril, perdendo 0,5 milhões
USD, na especulação, e livrando-se do risco de a cotação do
petróleo descer abaixo dos 90 dólares o barril. Na segunda situação
vende e simultaneamente dá ordem de compra da opção, se ela descer
abaixo de determinado limite. Poderá perder no imediato os 0,5
Milhões USD mas caso desça abaixo de determinado nível, poderá
reaver a opção a um preço maís acessível. E vir a recuperar a
perda mais tarde, caso a cotação não desça abaixo do preço firme
contratado no título.
Em
caso de descida de cotações, há especuladores, que nem precisam de
possuir o título do contrato de futuro. O que poderá ser o caso do
nosso broker, que assim faz uma operação swap de compensação de
possíveis perdas no negócio anterior. Como tem informação
suficiente, e tem a certeza que as cotações vão descer, ganha
dinheiro com a descida das cotações, através de vendas a
descoberto. Vende o título hoje, no caso, uma opção de um futuro,
sem ter qualquer título na sua posse, e dá ordem de compra desse
título por um preço mais baixo, dois ou três dias depois. O lucro
especulativo continua a ser a diferença entre o preço de venda e o
de compra, apenas a sucessão das operações é invertida. São
estas operações que por vezes forçam descidas em cadeia
pronunciadas das cotações.
Entretanto
o navio chegou ao porto de destino para descarregar. O proprietário
final do título, terá de pagar os 90% remanescentes ao produtor, e
vender no mercado á cotação da altura, com lucro ou eventual
prejuízo.
Neste
período de tempo, as cotações foram artificialmente empoladas ou
reduzidas conforme os interesses especulativos. E como as cotações
do mercado secundário influenciam directamente as do mercado
primário o preço do petróleo sobe ou desce na origem, sem que os
custos de produção variem, ou a variação dos stokes de petróleo
o justifique. Simplesmente por obra e graça da mafia especulativa.
Adivinham,
quem paga a brincadeira? Os países, as empresas, as pessoas comuns,
quando consomem.
por Octavio Serrano para o RiseUp Portugal