Quero contar-vos um “segredo” de polichinelo!
Quando se declarou a crise da divida soberana, veio voando a Troika de onde estava, apoisou, e para meu espanto e de muita gente, a sua primeira preocupação foi a de impôr um conjunto de medidas, que à partida pouco tinham a ver com o pagamento da divida.
Entre elas, sobressaiam as referentes à chamada instauração da “austeridade”. Ora a crise da divida soberana, tinha a ver com o facto de o Estado, alavancado por interesses políticos, ter vindo a gastar ao longo dos anos, mais do que devia, e diga-se de passagem, induzido pelos interesses económicos internos da CE. Claro, que entre a ameaça de bancarrota eminente, os interesseiros políticos e económicos do burgo tudo aceitaram, e para que a parvoíce fosse plena, até ultrapassaram.
Entre elas, sobressaiam as referentes à chamada instauração da “austeridade”. Ora a crise da divida soberana, tinha a ver com o facto de o Estado, alavancado por interesses políticos, ter vindo a gastar ao longo dos anos, mais do que devia, e diga-se de passagem, induzido pelos interesses económicos internos da CE. Claro, que entre a ameaça de bancarrota eminente, os interesseiros políticos e económicos do burgo tudo aceitaram, e para que a parvoíce fosse plena, até ultrapassaram.
Um dos aspectos mais relevantes dessas imposições relacionava-se com a redução da massa salarial paga pelo Estado e pelo sector privado; um fundamentalismo neoliberal extremo abateu-se sobre o país; o Estado congelou salários e extorquiu impostos sobre os rendimentos do trabalho; o sector privado, em face da recessão, despediu e reduziu remunerações. E o resultado foi o que eles, alemães, pretendiam; o país entrou em recessão profunda; as falências das pequenas empresas foram em catadupa; e a pobreza das famílias generalizou-se; e paradoxalmente a divida em vez de diminuir, aumentou!
E o comum do cidadão, que além do desemprego e da redução do nível de vida, também ganhou tempo para pensar, concluiu: o objectivo da Troika nunca foi que se pagasse a divida, mas sim o de submeter o país aos interesses do capitalismo financeiro internacional, ou seja o de reduzir o país à subserviência, e integrá-lo no leilão mundial desvalorizativo, que o factor produtivo chamado Trabalho tem vindo a sofrer, principalmente após a queda do muro de Berlim.
E se olharmos com atenção, constatamos que a humanidade tem vindo a adquirir um conjunto de tecnologias que têm incrementado a produtividade a todos os níveis. Seria lógico então os níveis de vida das populações melhorarem. No entanto está a suceder precisamente o contrário.
O aumento de produtividade tem obrigado ao consumo de mais recursos naturais e à diminuição da utilização de recursos humanos. Logo os primeiros tenderam a valorizar-se e os segundos a desvalorizar-se. É aqui que sobressai a grande contradição: se os recursos humanos se desvalorizam, e perdem capacidade aquisitiva, o consumo que lhes está associado tende também para a redução. Logo para que se mantenha o consumo e os lucros, é necessário que se reduzam os preços das mercadorias esmagando os salários e encargos que lhe são associados. Deste modo claro está, que se entra numa espiral desvalorizativa; um processo em que os grandes interesses económicos, financeiros e políticos, partes poderosas na questão, têm procurado assegurar e manter as suas margens brutas de lucros em níveis elevados.
Os países sob a ameaça premente da queda do emprego e dos PIBs, optam pelo caminho de colocar em hasta pública mundial a sua força de trabalho; ou isso ou a recessão; ou isso ou a exclusão; ou isso ou o empobrecimento. E a redução de preço do factor trabalho, é muito fácil de fazer para os países, que emitem moeda própria nacional, basta desvalorizá-la! A China, sob a ameaça da queda da sua bolsa de valores e da recessão fez isso recentemente. Os salários que os seus trabalhadores ganhavam, passaram de um momento para o outro, a possuir menos capacidade de aquisição. Os lucros do grande capital financeiro internacional ganharam um incremento cambial, pois os produtos chineses produzidos em yuans e comercializados em dólares, passaram a permitir mais lucro. Mas os trabalhadores chineses viram reduzido a sua capacidade de consumo, facto que também não é despiciente, pois dada a sua quantidade irão certamente baixar o consumo de bens importados.
Na Europa esta tendência também se está a verificar. As grandes multinacionais com sede na Alemanha e França, necessitam de continuar a vender globalmente os seus produtos, e de manter os seus lucros. Logo necessitam igualmente de baixar os seus custos produtivos. Onde o podem fazer? Precisamente na mão-de-obra assalariada, apesar de esta já ser altamente especializada e certificada.
E o que fizeram foi criminoso! Foi destruir de propósito a maior parte do que restava das economias periféricas, de modo a impôr reduções salariais substanciais, obtendo desse modo matérias-primas mais baratas e ambivalentemente criar um exército de mão-de-obra especializada oriunda desses países, disponível para trabalhar nas suas indústrias e serviços, a preços mais reduzidos; e de caminho conseguir manter a níveis baixos o preço da seu mão-de-obra interna, sem a perder eleitoralmente.
A tendência mundial, ditatorialmente imposta pelos grandes interesses financeiros defensores do neoliberalismo é a de conduzir os povos ao limiar da sobrevivência, de modo a manter sempre as suas margens de lucro e privilégio. E isto é fascismo puro. E maís revela uma fractura crescente entre a capacidade potencial da humanidade satisfazer as suas necessidades e bem-estar, e um sistema que é incapaz de o cumprir.
por Octávio Serrano para o RiseUp Portugal
por Octávio Serrano para o RiseUp Portugal