20/05/2016

Paraísos fiscais para grandes, impostos e austeridade para pequenos

Depois de uma rápida pesquisa na internet, encontrei uma empresa denominada Europ4, dedicada à abertura de contas “off-shore”; dá-nos logo no “menu principal”, a definição do que são empresas off-shore e das suas vantagens; por ser elucidativo e interessante transcrevo: são empresas constituídas em locais que oferecem privilégios tributários, como impostos reduzidos ou isenção de impostos! Vantagens: não requerem contabilidade ou auditoria de contas, os nomes dos donos da empresa não constam de documentos públicos, e garante-se impostos reduzidos ou inexistentes. Perceberam o esquema, não? Vamos lá examinar esta teia.


Temos um conjunto de lugares, sendo os mais importantes na Europa, Andorra, Mónaco, Liechenstein e a Ilha de Guernsey, os quais são considerados off-shores não colaborantes; temos outros como Jersey, Luxemburgo, Suiça que aceitam, relutantemente, proporcionar informações sobre os seus clientes. 

Nestes locais, os rendimentos de capitais obtidos, são tributados a taxas muito reduzidas ou mesmo inexistentes; o que faz com que, todo o individuo ou empresa, que não queira pagar impostos, ai sedie as suas empresas e contas bancárias. Ou indivíduos e empresas, que queiram ocultar valores que tenham na sua posse, nomeadamente vindos da corrupção, preferirão off-shores menos colaborantes, como garantia plena de não serem descobertos.

Mas quem são estas empresas e indivíduos? Está provado, pelos poucos vislumbres que se vai obtendo, nomeadamente pelo jornalismo de investigação, que é constituída pela “nata” do poder politico e económico! E também por todos aqueles, que dessa nata dependem e com ela se interligam! Membros de conselhos de administração, directores de tudo e mais alguma coisa, figuras que ocupam ou ocuparam lugares chaves em administração publicas, políticos de muita nomeada ou com pouca nomeada, os amigos deles ou até os que lhes emprestam dinheiro, sem esquecer os omnipresentes banqueiros. E não nos esqueçamos das multinacionais, das grandes empresas exportadoras e de grupos económicos tentaculantes!


E para estes não se sentirem sozinhos, podemos juntar-lhes todos os traficantes de todo o mundo, seja do que for, que ilegal seja. Mas só estes serão considerados bandidos, os outros não!? Todos eles juntos, se aproveitam da opacidade do sistema financeiro de off-shores, para no seu recato, guardar as suas fortunas, ou transacionar seja o que for, escondendo as mais-valias obtidas, desses vilões da actualidade, os cobradores de impostos de cada país! Ou quiçá da justiça, que ainda a há, apesar de tudo.

Quase inalcançáveis! O sistema financeiro das off-shores, interliga-se com a banca de retalho e a de investimento, quando não é criado por estas! É a parte “negra”, do sistema bancário legal! Nele tudo se faz, desde os investimentos mais inocentes, como comprar e vender obrigações, acções de base especulativa; ou pagar “comissões” legais ou criminosas, seja de intermediação de negócios, seja de corrupção pura e simples; ou transacções relacionadas com excesso de facturação em exportações, ou simplesmente a transacção dita por “fora”; financiam-se fundos de investimento especulativo, ou negócios à margem da sociedade em geral extremamente lucrativos; ou são simples lugares de depósito de notas sem origem, grandes lavadoras que tudo lavam, até a palma das mãos.

E assim se espoliam os países, os povos e as nações! A fuga é tão grande que os meios circulantes se tornam escassos dentro da economia real; o investimento torna-se raro e arriscado; a sociedade por inteiro deflaciona; o desemprego cresce; o preço da mão-de-obra desvaloriza; a queda de consumo acentua-se; as pequenas empresas encerram; a economia deprime e a crise torna-se crónica. Sem dúvida as off-shores, têm uma quota-parte de responsabilidade na situação que vivemos.

As Nações e os Estados enfraquecem, assim como os seus cidadãos, que crivados de impostos, se vêm forçados a alimentar a “vaca”, de que outros beneficiam, em função do poder económico que gerem, ou do poder politico que assumem; quando, a crise se aprofundar, e tudo estiver em causa, será a própria democracia ou aquela que aparente ser, que estará em causa.

E os grandes beneficiários deste estado de coisas: as elites políticas, económicas e sociais, importam-se? Alguma talvez! A maioria dentro do seu interesse económica de classe privilegiada cala-se no silêncio dos culposos.


O Octávio Serrano escreve também na sua página de facebook "Página de Analise Política", que podem encontrar neste link.

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