14/06/2016

CGD: Seremos todos burros?

Há coisas que eu tenho muita dificuldade de entender! A CGD – Caixa Geral de Depósitos, foi vítima de saques organizados desde o início deste século:

1) Financiamento de operações com critério político em vez de critério empresarial;

2) Financiamento de investidores sem qualquer critério que não fosse a sua proximidade ao poder instituído em cada instante;

3) Financiamento de empresários sem qualquer critério que não fosse o dos “benefícios correlativos para os decisores” (a receber pelos próprios ou pelas “famílias”, de sangue, de política, de ordem ou de loja);

4) Gastos sumptuosos de funcionamento, de aparência, de imagem, sem qualquer critério Institucional que não fosse o bem-estar das Administrações (e dos seus companheiros de viagem).

O resultado de tudo isto:

a) Um buraco inicial de mais de 3 mil milhões de euros (que já “emprestámos” à CGD durante o Governo PSD/CDS);


b) Um buraco adicional de quase 4 mil milhões de euros (que vamos “dar” – estes são mesmo dados – à CGD no Governo PS/BE/CDU).



As consequências para os responsáveis?

I) Os dois principais responsáveis, Vitor Constâncio e Carlos Costa, ex-governador e atual governador, respetivamente, do Banco de Portugal: um foi promovido para o BCE (Banco Central Europeu), o outro foi reconduzido para um mandato que ultrapassa o do Governo que o nomeou, mais o do Governo que se segue (mesmo que este consiga a proeza de aguentar TODA a legislatura), sendo que nenhum dos dois pode ser demovido dos seus lugares!


II) Uma parte significativa dos Administradores que promoveram e/ou pactuaram e/ou ocultaram a roubalheira vivem principescamente à nossa custa (com reformas, complementos de reformas ou pensões vitalícias do fundo de pensões da CGD, que são absolutamente pornográficas nos valores pagos!


III) Outra parte significativa dos Administradores que promoveram e/ou pactuaram e/ou ocultaram a roubalheira vivem principescamente com lugares incríveis, em instituições incríveis e com remunerações incríveis (algumas delas pagas direta ou indiretamente por todos nós).


As consequências para os outros?

IV) Tal como aconteceu em quase todos os Bancos, cerca de 2.000 (dois mil), funcionários vão perder o emprego (Nota - isto, para além de ser criminoso do ponto de vista social, nem sequer do ponto de vista contabilístico faz qualquer sentido: deixam de constar como custos na CGD e passam a constar como custos na Segurança Social ou por Subsídio de Desemprego ou por Reforma Antecipada – os resultados da CGD são melhores, mas a “conta” pagamos na mesma todos nós)!


V) Para o contribuinte em geral: pagamos e calamos (a conta total ultrapassa os 7 mil milhões de euros – maior que o rombo que o gangue criminoso dos piores tempos do Cavaquismo provocou no BPN).

 
E, quando estávamos todos (somos uns tristes ingénuos), convencidos que por existir uma maioria de Esquerda no Parlamento (independentemente da ideologia política de cada um de nós, é verdade que se reconhecia, até agora – agora deixamos mesmo de reconhecer – à esquerda uma especial capacidade de indignação com as maldades do capitalismo e da gestão capitalista), que constatamos?

1) Que a Administração foi aumentada em número para 19 (Dezanove!!!!!!!!!!!!!), para lá caberem os representantes de toda a merda que por aí pulula (partidos, presidência, maçonaria, opus dei, escritórios de advogados, etc…);


2) Que a Administração foi aumentada em volume de ordenados;


3) Que os partidos de esquerda não querem que se investigue tudo o que se passou!


Resumindo: os trabalhadores perdem o emprego, os criminosos ficam impunes, os amigos arranjam tachos e nós, todos, pagamos a conta!

Há coisas que eu tenho muita dificuldade de entender. Provavelmente porque sou louro!

Se não somos todos burros alguém está a fazer um enorme esforço para parecermos!!

por Carlos Paz, economista