20/06/2016

Vamos lá então falar sobre a Caixa

O PSD quer saber de quanto é que a Caixa Geral de Depósitos precisa para reforçar o seu capital e o que justifica esse montante. Quer o PSD saber e queremos todos nós. Mas se é para saber mesmo, então vamos começar a contar a história desde o princípio, quando em 1995 Rui Vilar abandonou a presidência da instituição. 

A partir daí, pouco a pouco, PS, PSD e CDS politizaram as sucessivas administrações da CGD e utilizaram-na para os seus objetivos, quer de negócios quer para pagar favores políticos. Passou a ser aceite como natural haver a quota de administradores do CDS (Celeste Cardona, Nuno Fernandes Thomaz…) e os presidentes deviam ser do PS quando o PSD estava no poder e vice-versa. 

Foi possível assistir a uma batalha entre um chairman (António de Sousa) e o CEO (Mira Amaral), acabando os dois na rua. 

Foi possível um dos melhores secretários de Estado dos Assuntos Europeus que o país conheceu, Vítor Martins, ser nomeado presidente da CGD, sem ter experiência de banca. Foi possível o escândalo, durante a administração de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, de a CGD financiar o empresário Joe Berardo para este comprar ações do BCP e intervir na guerra pelo controlo daquele banco — dando como garantia as ações… Foi possível, no tempo de Faria de Oliveira, ver a Caixa apostar no mercado espanhol e a estratégia saldar-se por um rotundo falhanço, com pesados prejuízos. Foi possível obrigar a Caixa a engolir o BPN e suportar as pesadas perdas associadas.

Foi possível assistir a uma pessoa sem cargo oficial mas que apoiava o Governo PSD/CDS nas privatizações, o falecido António Borges, obrigar a administração da Caixa a vender a sua participação na Cimpor por um preço claramente inferior ao que o mercado estaria disposto a pagar — com a CGD a engolir as perdas.
 
A CGD também teve de tomar participações acionistas no BCP e na PT, que depois teve de vender com largos prejuízos. Enfim, como sintetizou Nogueira Leite, vice-presidente da Caixa no tempo de Faria de Oliveira e que se demitiu, a Caixa funcionou, demasiado tempo, como “barriga de aluguer da política pública, da política governamental, da criação de campeões nacionais, centros de decisão nacional ou do que quer que fosse”. E a responsabilidade é de sucessivos governos do PS, PSD e CDS, que se entenderam ao longo de anos para partilhar a Caixa como um despojo das suas guerras políticas. Acresce que cerca de 50% do crédito concedido pela Caixa é para financiar a compra de habitação, o que, tendo em conta a evolução das taxas de juro, prejudica muito os resultados.

A pouco a pouco, PS, PSD e CDS politizaram as administrações da CGD e utilizaram-na para os seus objetivos, quer de negócios quer para pagar favores políticos.

É por tudo isto que a Caixa vai precisar de um pesado aumento de capital. E é também por isso que vai ter de reduzir dois mil postos de trabalho. Heranças dos desmandos de sucessivos governos — que, mais uma vez, serão pagos pelos contribuintes.

por Nicolau Santos no Expresso