As
mais recentes notícias sobre as descobertas de água em Marte são
brilhantes, até parece que já me estou a ver ir passar uns dias de
férias a um resort extraplanetário.
O entusiasmo foi tanto que só
depois é que percebi nas entrelinhas que afinal não existem rios
nem lagos, mas o que encontraram foi apenas sais hidratados.
O meu entusiasmo resfriou, mas o da restante humanidade parece que não. Continuam a achar que este é que é o caminho a seguir, gastar milhares de milhões de dólares para serem feitas pesquisas pouco ou nada importantes para a sustentabilidade dos seres que ainda vivem no terceiro calhau a contar do sol.
O meu entusiasmo resfriou, mas o da restante humanidade parece que não. Continuam a achar que este é que é o caminho a seguir, gastar milhares de milhões de dólares para serem feitas pesquisas pouco ou nada importantes para a sustentabilidade dos seres que ainda vivem no terceiro calhau a contar do sol.
Se
o negócio das armas ou o negócio da indústria farmacêutica
sustentam centenas de famílias de magnatas que controlam os destinos
da humanidade, o negócio das pesquizas interplanetárias deixa-me
mais perplexo ainda.
São feitos investimentos exorbitantes, na sua
maioria subsidiados por diversos estados e organizações
governamentais, para se ir brincar à guerra das estrelas. Só o
projeto Curiosity custou 2,5 mil milhões de dólares, para se
descobrir que afinal não há mesmo vida em Marte, mas ao menos
encontrámos sais hidratados. Foram desencadeados projetos que visam
colocar seres humanos em Marte como cobaias e onde o orçamento
previsto para o programa da Mars One ronda os 5 mil milhões de
dólares. O desplante é tanto que já conseguem iludir milhares de
pessoas que se candidataram a um programa espacial onde só têm
bilhete de ida e onde está previsto que não sobrevivam mais do que
3 meses, mas isso não importa nada, vai ser mais um grande feito
desta brilhante humanidade.
Gastar
8 mil milhões de dólares para investigações surreais num planeta
onde sabemos à partida que não vamos poder habitar, é algo
aceitável por esta humanidade atual. Mas então e preocuparem-se
primeiro em não destruir aquele planeta que ainda continua a reunir
todas as condições para que possamos continuar a viver por cá
durante alguns milhares de anos? E que tal investir a sério na
criação de mecanismos que permitam combater e controlar a emissão
de gases poluentes que estão a influenciar de forma direta as
condições atmosféricas do nosso planeta? Que tal preocuparem-se
também com a criação de mecanismos e programas que visem a
promoção do desenvolvimento sustentável do planeta e não a
degradação do meio ambiente?
A
resposta a todas estas perguntas é apenas uma: isso não traz lucros
às empresas multinacionais e também não interessa muito que a
população tenha boa qualidade de vida, para que possa ser melhor
controlada. Segundo um relatório das Nações Unidas (relatório
credível ou não) estimam-se que 78 milhões de pessoas, em 22
países, necessitam de assistência humanitária urgente em 2015.
Estima-se que seria necessário investir 16,4 mil milhões de dólares
para prestar o auxílio a essas pessoas, mas é muito mais bonito e
mediático apresentar cristais hidratados em Marte do que promover o
bem-estar de toda a humanidade no planeta Terra.
por António Felizardo para o RiseUp Portugal