Se
uma Nação prescinde das suas fronteiras económicas, por imposição
de interesses estrangeiros ou não, estão criadas as condições
políticas e económicas para que os seus interesses nacionais se
subordinem a interesses estrangeiros dominantes.
E isso é tanto mais
grave, quando se hipoteca o futuro da Nação.
1ª Constatação - A importação de produtos agrícolas ou fabricados, produzidos exteriormente com economias de escala, a preços inferiores aos que os produtores nacionais conseguem colocar no mercado, fazem com que a produção nacional se desagregue e se reduza, criando uma massa de trabalhadores excedentários a quem só lhe resta a emigração ou a miséria.
A reconversão em novas
indústrias só muito dificilmente é realizada, uma vez que será
difícil o seu arranque e estabilização, em virtude de as
fronteiras se encontrarem escancaradas.
2ª Constatação - A destruição de um tecido produtivo equilibrado num
país subjugado, tem por consequência a especialização forçada em
meia dúzia de serviços ou produções, normalmente sem grande
relevância económica e cuja comercialização externa muitas vezes
também é controlada por grupos económicos organizados nesse
sentido.
Isto conduz, a que as receitas desse país fiquem
dependentes das cotações desses produtos nos mercados mundiais, que
sobem e descem à mercê dos interesses do capitalismo global. Conduz
ainda, à criação de elites internas relacionadas com essas
produções, que se tornam a maior das vezes, aliadas dos interesses
estrangeiros. Enquanto isso, o povo vegeta ou emigra. Uma terra
queimada.
3ª Constatação - Um país que está incapacitado economicamente, e que
alem disso tem as suas fronteiras económicas rebaixadas, tem
dificuldades em controlar a sua Balança de Transacções Correntes
com o exterior.
Normalmente não possui capacidade produtiva interna
para satisfazer as necessidades básicas das suas populações. Logo
é forçado a importar; mas o que exporta não compensa o que
importa. Tudo isto conduz a deficits crónicos na sua BTC, só
combatíveis através da redução da capacidade aquisitiva das
populações, feita pela subida de impostos sobre o consumo, ou
através do seu empobrecimento, através de reduções salariais. É
nisto que consiste a famosa austeridade.
4ª Constatação - A especialização produtiva forçada em meia dúzia
de produtos ou serviços, conduz a um tecido económico
desestruturado e desequilibrado.
A riqueza criada pelo país tem
tendência a concentrar-se nos detentores dos meios de produção
desses sectores, apesar de por vezes eles não serem especialmente
apelativos economicamente, uma vez que o mercado é muitas vezes
controlado, quanto aos preços praticados, pelos mercados mundiais.
Desse modo, criam-se zonas com diferente capacidade de criação de
riqueza, umas mais ou menos prósperas, outras definhadas. Originando
emigração e despovoamento, depressão e abandono. E nas zonas mais
produtivas, dada a mão-de-obra ser excedentária, grandes diferenças
sociais e económicas; uma sociedade de incluídos e de excluídos.
5ª Constatação - O Estado, órgão supremo da Nação, vê ser-lhe
reduzida a sua capacidade de intervenção em função dos interesses
económicos dominantes.
Cortado na sua capacidade de cobrança de
impostos, pelo empobrecimento geral da população; impedido de
intervir economicamente, em virtude de os “interesses” dominantes
lho impedirem, resta ao Estado um papel subordinado. Fortemente
limitado na sua capacidade de intervenção no desenvolvimento
infraestrutural do país, devido ao facto de as receitas que cobra
serem insuficientes; resta-lhe o endividamento ou a estagnação.
O
endividamento conduz a prazo à subjugação liminar do país; a
estagnação, à limitação do seu papel a simples “capataz” dos
interesses estabelecidos.
6ª Constatação - Como o país se encontra completamente desprotegido em
termos concorrências, é extremamente difícil desenvolverem-se
novas industrias, baseadas em tecnologias já existentes, pois em
industrias maduras, com mercados já controlados e bem protegidas por
economias de escala, tal é impossível.
A solução escape poderá
ser eventualmente a entrada em nichos de mercado específicos, mas
tal só será possível se se contar com a complacência das empresas
dominantes. Resta as startups com novas tecnologias ou produtos; mas
mesmo estas para vencerem precisariam de expansões de mercado muito
rápidas e lucrativas, coisa que não existe num mercado doméstico
em crise económica crónica.
Perante
esta análise, restará a um país subjugado pelo dito Mercado, a
constatação da sua miséria dependente, ou o corte radical das
peias que o ata. Ficando como está, não se livrará tão depressa
das teias do subdesenvolvimento e da submissão.
Octávio Serrano para o RiseUp Portugal