19/05/2016

Bilderberg: As minhas perguntas a Pinto Balsemão e a sua resposta

Este artigo data de 2013, porém achamo-lo de enorme relevância e queremos publica-lo aqui também. Este trabalho é de Marisa Moura.

“Ontem enviei perguntas, por e-mail, a Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa (canais televisivos SIC, semanário Expresso, revistas Visão, Exame, Caras, etc.), fundador do Partido PPD – Popular Democrático (actual PSD – Partido Social Democrata), ex primeiro-ministro de Portugal, e um membro da comissão de direcção das reuniões Bilderberg, encabeçada pelo presidente do grupo financeiro dos seguros Axa e cujo chairman é o quase centenário David Rockefeller.


Copio abaixo o e-mail que enviei a Balsemão e a nota sobre a resposta que recebi:

Dr.  Balsemão,

Sou freelancer desde que saí do Grupo Impresa em 2010 e é nessa qualidade que lhe dirijo as questões que seguem abaixo, sobre a crise política do momento, o grupo Impresa e o clube de Bilderberg, às quais agradeço que responda logo que lhe seja possível, nas próximas semanas.

Antes, ainda uma obrigatória palavra sobre a minha saída do grupo Impresa. Demiti-me por razões que creio serem do seu conhecimento. Lamento ter saído por tais razões, lamento a forma como tive de sair e lamento ter-me visto obrigada a tornar pública a situação, bem como lamento a forma pela qual a tornei pública. Pauto-me exclusivamente pelos mais nobres valores de cidadania e ética profissional, pelo que a esses, e apenas esses, jurei lealdade. É sob esse mesmo compromisso que, por mais insólito que pareça, lhe dirijo hoje estas questões. Espero que compreenda e reaja em conformidade com essa compreensão enviando de volta respostas.

Com os meus sinceros cumprimentos e agradecimentos, aqui seguem então.


As questões:

 

1 – Duas semanas após a reunião do clube de Bilderberg de Junho, em que o Dr. Balsemão levou Paulo Portas (CDS-PP, no governo) e António José Seguro (PS), a revista Exame entrevistou Paulo Portas, que é a capa neste momento em banca. Duas semanas após a entrevista Paulo Portas demite-se do governo e desencadeia eleições antecipadas nas quais Portas e Seguro são precisamente os melhor posicionados para ganhar. Quando Durão Barroso esteve consigo na reunião de 2003 o governo, por outras razões, também mudou. A revista Exame não costuma fazer capa com políticos, mas recentemente já fez duas. 

Compreende-se que seja a nova linha editorial resultante da nova direcção, mas ambas as capas são com membros centristas do governo (Assunção Cristas, primeiro, Portas agora). Destes factos se infere que neste momento a revista Exame (grupo Impresa) está a fazer campanha por Paulo Portas para as legislativas.

A pergunta é: Que garantias dá aos leitores da Exame, e audiências dos demais órgãos do grupo Impresa, de que esta inferência estará incorrecta? Que garantias dá aos cidadãos portugueses de que os conteúdos que consomem, veiculados pelas revistas Exame e Visão, pelo jornal Expresso e pelos canais da SIC, cumprem estritamente os deveres constitucionais de Informar desta Democracia?

2 – Por que razão inscreve a sua “filiação” no clube de Bilderberg no seu curriculum quando grande parte dos membros nega integrá-lo? Recordo-me, por exemplo, que optou por inscrever essa filiação na pequena bio que o descrevia como orador numa das conferências anuais Portugal em Exame…

3 – Tal como a Maçonaria, o clube de Bilderberg é conotado com secretas conspirações maliciosas ao bem-estar das sociedades, ou no mínimo, poderosas redes de nepotismo. No caso da Maçonaria, em Portugal, têm surgido maçons, como António ArnautJoão Cravinho, a defenderem a transparência relativamente aos seus membros, nomeadamente aos que exerçam cargos públicos. Defende semelhante linha de transparência para o clube de Bilderberg?

4 – Que motivações o levaram a juntar-se ao clube de Bilderberg? Do contributo do Clube para a consolidação da Democracia em Portugal que decisão/decisões destacaria? Porquê?

Mais uma vez agradeço a atenção e compreensão.
Sinceros cumprimentos,
Marisa

***

 Resposta:

A resposta a estas questões veio por telefone na mesma tarde através da secretária de Francisco Pinto Balsemão. O diálogo foi algo assim:

– O doutor diz que tudo o que tinha a dizer sobre esse assunto já disse no programa “Quem Diria”.

Mas há uma pergunta muito concreta sobre o grupo Impresa, por exemplo.
– Ele viu as perguntas. Tudo o que tinha a dizer já disse no programa.

Ok. Ele lá sabe dos seus direitos e deveres…

“Quem Diria” é um programa mensal do canal SIC Notícias (grupo Impresa) que junta duas personalidades à conversa sobre a actualidade e as suas vidas mais pessoais. O último, com Balsemão e a actriz Simone de Oliveira, foi para o ar dia 29 de Junho. Pode ver-se aqui o spot de auto-promoção, mas o programa em si não está disponível no site da SIC Notícias onde constam anteriores edições

Não vi o programa, não sei quem tenha visto e não tenho maneira de ver, pelo que, neste momento, não sei o que Francisco Balsemão disse nesta sua aparição após a reunião Bilderberg do início de Junho.

Facto: Balsemão acaba de ser chamado a garantir aos cidadãos de que é idónea a informação veiculada nos meios do seu grupo de media mas optou pelo silêncio.

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Notas: 

1 – Enviei estas perguntas ontem antes de saber que nesse mesmo dia a revista Visão (grupo Impresa) publicou online um artigo que legitima ainda mais a tal inferência de que Balsemão está mandatado, ou auto-mandatado, para, através do seu grupo de media, derrubar o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, ou, pelo menos, enfraquecer a ala social-democrata da actual coligação governativa.

2 – Muitas outras questões haveria a fazer, mas limitei-me às questões mais centradas no momento pois sei que, quantas mais perguntas, menores probabilidades de obter qualquer resposta.

3 – Na pergunta 2, quando refiro que «grande parte dos membros nega integrá-lo», não me refiro em especial às ditas “reuniões Bilderberg” das quais existe um site oficial onde se listam os 35 membros da actual comissão de direcção e anteriores. Referia-me a todos os envolvidos nestas reuniões e paralelamente a elas. Mas confesso: precipitei-me. 

O site de Bilderberg tem também a lista da ordem de trabalhos das três últimas reuniões e no botão ao lado estão listados os participantes em cada reunião, residentes e convidados como o ministro Paulo Portas e o líder da oposição António José Seguro nesta 61.ª edição. Só percebi isso agora quando entrei na zona da agenda para copiar o link a inserir aqui. Todavia a questão mantém pertinência na medida em que se refere à transparência do Clube.

3.1. – No site Bilderberg afirma-se: «Graças à natureza privada da conferência, os participantes não são limitados  por convenções ou posições pré-acordadas. Assim podem focar-se em escutar, reflectir e reunir pontos de vista. Não há agenda detalhada, não se propõem resoluções, não há votações, e não são publicadas directrizes políticas». Ou seja: o Bilderberg funciona sob uma espécie de regra Chatham House (como aquela que o governo quis introduzir no debate sobre a Reforma do Estado – aberto à sociedade civil mas onde os jornalistas não podiam gravar nem sequer citar alguém sem autorização prévia), mas, no caso de Bilderberg, em versão exacerbada e ilícita. Ilícita na medida em que são por demais evidentes os sinais de que ali, realmente, se elegem os governos de cada Democracia.

3.2. – Se no clube de Bilderberg se alinham rumos que impactam as vidas dos cidadãos, essas reuniões têm o dever de prestar contas e a Imprensa tem o direito e dever de aceder ao conteúdo de tais “plenários”. Nas democracias, a gestão da polis faz-se nos Parlamentos. Se a política passou a ser feita (ou sempre foi, aliás) nos “parlamentos” de Bilderberg e da Maçonaria, sem qualquer cavaco prestado a ninguém, então, na verdade, os Parlamentos são mero engodo para iludir a existência de democracias.

3.3. – Estas sociedades “secretas” estão a funcionar tal e qual como funcionaram os produtos financeiros tóxicos que desencadearam em  actual crise europeia,a partir do subprime norte-americano em 2007. Esses rolaram de forma tão desregulada que provocam os danos que agora se vê. Isto com os líderes da finança sempre a afirmarem que o sector financeiro «é o mais regulamentado de todos».

3.4. – Bilderberg, Maçonaria e demais “secretas” têm de ser regulamentadas. Nos Parlamentos “oficiais”, aprovam-se boas e más leis. Há bons e maus deputados. Mas o que ali se passa, para o bem ou para o mal, é escrutável. Para já, é urgente tornar obrigatório o escrutínio público de Bilderberg e Maçonaria. Já! 

4 – Se tentar abrir os links de cada zona do site Bilderberg e der erro (como é habitual), entre pela página inicial que abre sempre.

5 – Dirigi-me a Francisco Pinto Balsemão como “Dr.” a título muito excepcional, pois, discordando com a cultura de “doutores e engenheiros” dominante em Portugal, reservo o uso a situações muitíssimo excepcionais como esta em que achei que seria melhor não criar anticorpos logo na primeira linha, pois estava em causa um interesse colectivo ainda mais importante do que a perversão por detrás da tal cultura dos títulos (ou, pelo menos, de interesse equiparável, e interligado). No grupo Impresa a esmagadora maioria diz sempre “doutor Balsemão” mesmo em diálogos super-informais longe da pessoa ou de qualquer dos seus mais próximos colaboradores. E optei também pelo “Dr. Balsemão” porque para usar o nome completo, como costumo usar, teria de o anteceder com um “Caro” ou “Estimado” ou “Exm.º” e não me senti com suficiente estima pelo interlocutor para tal cumprimento.

6 – Enviei também ontem perguntas a João Vieira Pereira, director da revista Exame e director-adjunto do semanário Expresso. Perguntei que critérios jornalísticos exactamente justificaram a entrevista ao ministro (embora eles estejam bem defendidos pois Portas é o ministro dos negócios estrangeiros e a Exame é uma revista se negócios). Solicitei  garantias de que estará incorrecta a inferência sobre a relação entre a entrevista a Portas (capa da Exame agora na banca) e a sua presença, com Balsemão, dias antes na reunião de Bilderberg. Solicitei também garantias aos leitores da Exame de que é idónea a informação que ali se publica. Fixei como deadline duas semanas. Uma coisa reconheço: Não tivesse eu trabalhado na Exame e no Expresso e ter-me demitido por “conspirações” do género, e aquela capa não me teria chamado minimamente a atenção.  Pelo que compreendo quem eventualmente vislumbrar laivos de “delírio” nesta minha “tese”.
***

Alguns links sobre este assunto:

  »» “As Soberânias Nacionais Estão Mortas” – Entrevista, em Inglaterra, ao ex-apresentador da BBC e estudioso de Bilderberg, David Icke, na última reunião, pelo português Basílio Martins – jornal O Diabo, 03/07/2013 [com exemplo do Tratado de Lisboa, o tal em que Sócrates soltou o célebre «Porreiro, pá!» Não embarcasse David Icke em certos ambientes freaks ligados à espiritualidade, pondo-se a jeito para ser descredibilizado, e ninguém teria razões para acusá-lo de “desequilibrado” pois factos é coisa que não falta nesta evidência “conspirativa” de que os Parlamentos são mero inglês-ver].

»» Será também isto do marido da ministra mais uma coincidência Balsemão/Bilderberg? [ver blogue]

»» Por que será que algo me diz que o Portas preparou isto há umas semanitas? [ver blogue]”