A banca, de “dia”,
extorque casas, carros, ordenados e o que mais puder aos contribuintes
em dificuldades, quase sempre em negócios de enriquecimento ilícito,
possibilidade criada pelos tais “legisladores” de interesses. De
“noite”, pede, exige, obriga esses mesmos contribuintes a tapar os
saques através de injecção de capital público, a fundo perdido, ou em
empréstimos.
“Mata um homem e és um assassino, mata milhões e és um conquistador,
mata todos e és Deus”. A frase proferida pelo biólogo e filósofo francês
Jean Rostand assenta como uma luva na mentalidade maquiavélica dos que
têm saqueado sem controlo os contribuintes portugueses. Cometer crimes
sim, e na maior escala possível.
Outra, vinda de um ambiente mais lúdico completa o ramalhete da criminalidade impune que reina em Portugal.
No filme Die Hard,
Alan Rickman na pele do vilão Hans Gruber justifica a John McClane,
interpretado por Bruce Willis, por que razão decidiu “fabricar” a sua
aparente morte como desfecho do assalto que estava a efectuar. “Quando roubas 600 dólares podes desaparecer. Quando roubas 600
milhões vão-te encontrar a menos que te julguem morto”.
No caso
português essa fuga à responsabilidade tem sido orquestrada através de
bancos falidos, inundados por milhões de operações, onde a identificação
dos actos ilícitos é mais difícil do que encontrar uma agulha num
palheiro, especialmente para um sistema judicial sem o mínimo de
condições materiais e humanas para tais operações.
E quem é que capacita ou incapacita uma das pedras basilares de um
estado de direito democrático, a Justiça? Para não ser “independente”
apenas no papel, mas para ser eficazmente independente na prática? Os
mesmos que directa ou indirectamente partilham a cama com os
prevaricadores – a classe política –, especialmente os deputados
advogados, os tais que Mendes Bota, ex-presidente da comissão de Ética
do Parlamento, afirmou que assaltaram os lugares-chave da Assembleia da
República.
Os mesmos “legisladores” que criam as leis para os ‘lobbies’ que os
sustentam e impedem as leis para a responsabilização deles próprios e de
quem representam. Um caso típico de “colocar o lobo a guardar o rebanho
de ovelhas”. Portanto, crimes sim, mas em grande, para se iludir com a
complexidade do processo, “matar” os veículos dos ilícitos, os bancos, e
escolher uns bodes expiatórios que nunca serão responsabilizados em
tempo útil. Senão vejamos:
BPN, o “banco dos partidos”, muitos milhões de euros de créditos
efectuados por políticos e amigos, que nunca foram nem serão pagos,
consequências passados 8 anos e 3 mil milhões em custos para os
contribuintes? Oliveira e Costa, agora com 80 anos, se alguma vez for
condenado é mais do que provável que já não esteja no mundo terreno.
Banif, o oxigénio do reinado de Alberto João Jardim e do PSD Madeira.
Deveras curioso que se criticou, e bem, o BES de financiar o GES, mas o
facto de o Banif ter sido o principal financiador do PSD, partido, e
Fundação Social Democrática em 2014 e 2015, numa altura em que quem
controlava o Banif era o Estado controlado pelo PSD, é irrelevante.
Responsabilização? No Banif, Horácio Roque, fundador e responsável
máximo, já não responde pelo que fez ou deixou fazer e nenhum
responsável do banco está hoje sob acusação directa. De novo um crime
sem culpados com um custo para os contribuintes superior a 3 mil milhões
de euros.
BES, o maior buraco em valor, o menor custo para o Estado em
proporção, perto de 4 mil milhões, para já. “Escolheu-se” um bode
expiatório, Ricardo Salgado, hoje com 71 anos, supostamente o cérebro de
um buraco financeiro superior a 12 mil milhões. Todos os que o
acompanharam e até lucraram mais do que ele, directa ou indirectamente,
acabaram “esquecidos” na enormidade e complexidade do processo. As
luvas, as comissões, o pagamento de favores aos “legisladores” nunca
verão a luz da responsabilização.
CGD, o saco azul do fermento partidário, o casulo dos “Sérgio
Monteiro” e dos “Armando Vara” desta vida, muitos milhões em empréstimos
para os “amigos” financiadores dos políticos e dos partidos – 4 mil
milhões é o custo apontado.
Ao todo, só nestes quatro casos, são 14 mil milhões e transversal a
todos eles, os supervisores, apesar de co-responsáveis em todos os actos
de ilicitude grosseira, passam incólumes entre os pingos da chuva da
responsabilidade.
A realidade é simples, a perversidade é extrema. A banca, de “dia”,
extorque casas, carros, ordenados e o que mais puder aos contribuintes
em dificuldades, quase sempre em negócios de enriquecimento ilícito,
possibilidade criada pelos tais “legisladores” de interesses. De
“noite”, pede, exige, obriga esses mesmos contribuintes a tapar os
saques através de injecção de capital público, a fundo perdido, ou em
empréstimos.
Ainda está para vir o dia em que um banco empreste seja o que for a
um contribuinte falido e em que a única garantia seja apenas a
perspectiva de gerar rendimento para pagar o empréstimo. Ou seja, o que o
Estado andou a fazer à banca nos últimos anos. Ainda está para vir o
dia em que o contribuinte tenha direito a um ‘bad bank’ para limpar
instantaneamente os seus problemas como um acto de magia e sem ser
responsabilizado.
Desengane-se quem espera por justiça. A de hoje não é independente,
não por vícios, mas por condicionamentos, seja de financiamento das
operações ou de onerosidade no acesso. O campo está inclinado e o
cidadão perde o jogo mesmo antes deste começar, na secretária dos
interesses que é o Parlamento.
por Marco Silva
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