Caras pessoas amarelas,
O que vos faz ir para as ruas é a
escola dos filhos de cada um de vós. O que me fez e faz e fará ir para a
rua, e até escrever este texto, é a escola de todos os filhos. Nunca
foi “a escola do meu filho”. Foi sempre A Escola. Não vos vi por lá
nessa altura. Usando o vosso vocabulário, a “escola do meu filho” andava
a pagar a “escola dos vossos filhos”.
E aqui não há filhos e enteados. Fazem
muito bem em lutar por um futuro melhor para os vossos filhos. Todos
fazemos isso, como mães, pais e ainda que não sejamos pais ou mães (não
percebem esta de nem sequer ter filhos e de, ainda assim, ter a
obrigação de contribuir, pois não?).
Mas tentem ao menos perceber uma
cena, a vossa liberdade de escolha (é a terceira vez que digo isto) não
equivale a nenhum dever meu.
Acredito na Escola Pública (e não só porque o meu anda numa excelente escola pública). Acredito que o dinheiro até agora desbaratado pelo Estado em escolas privadas (já se deram sequer ao trabalho de perceber o que é “privado”?) vai contribuir, se aproveitado no Ensino Público, para a melhoria deste.
A culpa de não ser já de hoje para amanhã
(o que lamento) é toda vossa. Foi demasiado tempo deste fartar
vilanagem. Mas a Escola Pública vai compor-se, sim. Assim esta política
se mantenha e não trema perante os lobbies amarelos. No entretanto, terão mesmo de
arcar sozinhos com os custos desta transição. Porque “essa” escola
pública a 500 metros do vosso colégio não tem as condições deste,
precisamente por causa do dinheiro que o Estado despejou no Privado, ao
invés de alimentar o Ensino Público, que é o único que lhe compete.
O resto é o tal “direito à escolha”. Nunca ninguém colocou em causa o vosso direito, desde que este Governo e maioria parlamentar que o sustenta, resolveu abrir os olhos. Não o transformem é num dever meu. Mais uma coisa. Lá atrás, quando falo de
lutar… Não lutámos apenas pela Escola Pública. Mas disso nem vale a pena
falar, seria demasiado para as vossas singulares e umbiguistas
cabecinhas.
E não, não sou dono da razão, mas pago as minhas escolhas.
Sejam dignos, façam o mesmo. Para além de
que estão a fazer uma figurinha tão triste, àquele nível de um tipo
sentir vergonha por acções de terceiros. Será mandar pérolas a porcos, o que de
seguida digo. Pedir-vos a decência de lutarem pelas crianças, por todos
os filhos de todos os pais. Ainda assim aqui fica, e podem juntar o
desafio de lutarem também por vós e pelos avós. Mas não é só vós, nem é
só os avós dos vossos filhos. Um nó no cérebro, imagino.
Essa luta é transversal à sociedade, esquerda ou direita. Tem a ver com distinguir o justo do injusto.