Daqui a três décadas, poderão morrer 10 mil milhões de pessoas por ano devido ao exagero do uso de antibióticos em humanos e animais.
Já vários estudos têm alertado para o excesso de uso de antibióticos, que se reflete no aparecimento de resistências a estes medicamentos e, logo, na sua ineficácia. Mas normalmente a perspetiva é a do cientista. Desta vez, foi um economista a vir chamar a atenção para o problema.
A pedido do primeiro-ministro do Reino Unido, Jim O'Neill dedicou dois anos à análise do problema, e a conclusão é pessimista: 10 milhões de mortes anuais, por infeções causadas por bactérias resistentes, e um custo associado de 90 biliões de euros, em 2050, caso não se faça nada. Um dos fatores que contribuem para o aparecimento de resistências (que acontece quando aparecem mutações nas bactérias que lhes permitem escapar ao efeito dos antibióticos) é a utilização generalizada em animais – no Reino Unido, 45% dos antibióticos são para uso animal.
“A situação é semelhante em toda a Europa e é muito preocupante”, sublinha a investigadora do Instituto de Tecnologia Química e Biológica Maria Miragaia, que explica a contaminação por via animal: “Algumas bactérias conseguem sobreviver à cozedura, outras passam para as pessoas quando a carne é manuseada em cru.” Em Portugal, o último relatório da Direção-Geral da Saúde aponta para uma diminuição no consumo destes medicamentos, mas a taxa de infeção hospitalar por bactérias resistentes continua elevada. “Corremos o risco de chegar a uma situação pré-descoberta dos antibióticos [sem qualquer tratamento para as infeções]”, compara Maria Miragaia.