Numa
sociedade de consumidores, qualquer um de nós, acha que deve
usufruir de um direito, que deveria ser inalienável. Que é o
direito de escolha, que tem directamente relacionado o conceito de
negação dos produtos que são preteridos.
Assim quer-se e deseja-se
possuir a possibilidade e capacidade de poder escolher, de entre
produtos com o mesmo fim, aqueles que de algum modo satisfazem
melhor, do ponto de vista do consumidor, as suas necessidades
pessoais ou familiares. E cada aquisição feita, representará um
voto, na capacidade de aquele produto satisfazer melhor as
necessidades do consumidor, do que outros congéneres ou sucedâneos.
Por isso, os produtores num mercado concorrencial procuraram produzir
e fornecer ao mercado, o produto que melhor satisfaça o consumidor.
Caso não o façam, a sua sobrevivência como produtor estará em
causa. No entanto, se o produtor for monopolista, tal questão não
se colocará com tanta premência. Pois o consumidor, será forçado
a consumir aquele produto, independentemente da sua qualidade e
gosto, para que possa satisfazer as suas necessidades pessoais.
Porventura será mal servido, mas como não tem escolha, não terá
alternativa. Logo todos desejamos, ter por onde escolher seja de que
género de produto for.
Agora
suponha-se, que o mercado de determinado produto essencial é
dominado e controlado por uma empresa, que produz esse produto e o
embala com diversas marcas e embalagens diferentes, mas
essencialmente sem grandes evoluções, nem na qualidade, nem na
variedade.
Aparentemente, o consumidor terá o direito de escolha e
de negação, mas na realidade não tem. Pois indiferentemente da
embalagem e marca, a qualidade e diferenciação proporcionadas não
farão diferença ao seu gosto e desejo. Logo o direito de escolha do
consumidor, não existirá.
Desculpem-me
a analogia, mas dada a similitude de certos aspectos, não duvidemos
que sucede o mesmo na nossa “democracia”. O eleitor, que
idealmente deveria de ter o seu direito de escolha e negação
garantidos, simplesmente vê ser-lhe sistematicamente negado tal.
Como
os partidos cozinham as listas, quanto aos elementos que as compõem
e quanto á seriação dos mesmos, em conciliábulos internos e
inacessíveis, estas são apresentadas ao eleitor como “produtos”
quase sem direito de escolha. O facto de haver várias listas de
diferentes partidos, com várias tendências e ideologias, ou com
várias fraseologias e modos de actuar, não altera substancialmente
o problema. Pois o eleitor, está impossibilitado de escolher essas
pessoas. Ao eleitor só lhe resta aparecer para “escolher” uma
sigla ou “marca”, ou simplesmente alhear-se dessa “escolha”.
Que pouco a pouco, é a tendência geral assumida. Assim
progressivamente, mais e mais representatividade “vai” ficando na
“prateleira”. É verdade que o sistema, nos obriga a “consumir
esses eleitos”, mas na realidade a legitimidade destes desce, na
razão inversa do aumento de abstenção. Nem toda a gente, se dispõe
a consumir produto de má qualidade e ressabiado.
Assim
o direito de escolha, partirá na sua persecução, do lado da
“oferta”. Os eleitores, para que gozem desse direito, têm de ter
a possibilidade de escolha verdadeira. Logo o sistema politico,
deverá permitir essa abrangência. O monopólio dos partidos, deve
findar e permitir candidaturas independentes, nas eleições para a
Assembleia da Republica. Os partidos internamente deverão fazer a
seriação pública dos seus candidatos, através de primárias. Os
processos eleitorais deverão ser nominativos, e com possibilidade de
seriação. E deste modo, do lado da “oferta”, se propiciará o
direito de escolha.
Oferecendo-se
ao eleitor, verdadeira escolha, naturalmente, ele optará, por
aqueles que oferecem mais garantia e qualidade. Independentemente de
aparecerem com o rótulo “x” ou “y”, ou até de serem de
marca branca. E assim se promoverá a meritocracia, a ligação do
eleito às populações, a promoção dos desejos dos povos, enfim a
democracia.
por Octavio Serrano para o RiseUp Portugal