Muito
se tem lido nos últimos dias sobre o que se está a passar na
Assembleia da República. Mas nem tudo o que se lê, para não dizer
praticamente nada, é verdadeiro e uma vez mais a comunicação
social ao serviço dos interesses de terceiros, apenas apresenta o
que lhes dá jeito. Para não falar na propaganda que continua a ser
feita pelas redes sociais, onde os apoiantes do governo demitido
continuam a deturpar tudo em beneficio próprio. Como exemplo temos
as belas palavras escritas por uma senhora que pertencente a um
partido minoritário, só foi ministra porque, depois das eleições
de 2011, o seu querido líder exigiu lugares no governo para formarem
uma maioria.
Mas o que aconteceu em 2011 foi uma coligação pós
eleitoral, onde a intenção de voto da população já não
interessava, para eles votar no PSD ou no CDS já era a mesma coisa,
já em 2015 a conversa passou a ser outra e tudo o que tem acontecido
é para este grupo de vampiros uma afronta à democracia.
Mas vejamos
então um excerto do que esta senhora, de seu nome Assunção
Cristas, regurgitou na sua página do facebook sem qualquer sentido e
deturpando a realidade democrática: “Hoje rompeu-se, no
Parlamento, o consenso da prática política da democracia
portuguesa: quem ganha as eleições, governa. Pela primeira vez em
40 anos de democracia foi rejeitado o programa de Governo apresentado
por quem venceu as eleições.”.
Ora
pois vamos lá tentar ajudar esta senhora demente a perceber o que se
passou.
O que ela assistiu foi à democracia no seu estado mais puro,
embora para ela tenha sido uma afronta roubarem-lhe o tacho e tudo o
que de bom lhe trouxe durante quatro anos, mas de certeza que as
conservas Ramirez têm algo mais para oferecer a esta sua aliada, no
futuro. Começando pela rejeição do programa eleitoral, é bom que
esta senhora perceba que apesar de pertencer a uma coligação que
teve 38% dos votos, de forma alguma pode obrigar os deputados
representantes dos restantes 62% da população a aceitarem mais
pobreza para o país. Na verdade a coligação entre o PSD e o CDS
não ganhou coisa nenhuma, mas sim perdeu a maioria absoluta que
tinha. Por outro lado assistiu-se finalmente a um entendimento entre
4 (PS, BE, PCP e PEV), partidos que representam a verdadeira maioria
absoluta dos votantes nas eleições Legislativas, que pode muito bem
ser considerada como a segunda derrota da direita portuguesa.
Pela
primeira vez estamos a assistir a um acordo parlamentar onde várias
forças políticas se comprometem a negociar ano após ano as medidas
a serem aprovadas na Assembleia. Não existe qualquer coligação,
mas sim um acordo para que o PS assuma a liderança do país, mas
onde terá de negociar com os restantes partidos tudo o que pretenda
implementar, seja que tipo de medida for. Não existe nenhum cheque
assinado em branco para que o PS faça o que bem entender, existe sim
margem para negociação em tudo e dessa forma não vai existir
ditadura política de 4 anos como os partidos do designado “arco da
governação” estão habituados.
Por isso senhora ex-ministra tenha
mais contenção com o que deita cá para fora para manipular a
opinião dos fracos de mente, que absorvem tudo o que é despejado
por vós, seja nas redes sociais, seja na comunicação social que
dominam em proveito próprio. A ignorância que tentaram implementar
no país destruindo a educação e manipulando a comunicação
social, não foi assumida por todos e há muitos que continuam de
olhos bem abertos para vos fazer frente e apontar o dedo a tudo o que
inventam.
Por último e não passando de uma simples opinião própria, espero
que estejamos a assistir a uma mudança na cultura política em
Portugal e que finalmente se acabem as maiorias absolutas de um só
partido. As coligações pré-eleitorais não passam de formas
dissimuladas de se tentar impor uma ditadura de 4 anos, onde se põe
e dispõe tudo o que se bem entende e por norma e em proveito
próprio. Já os acordos parlamentares pós-eleições servem para
obrigar o partido que vai assumir os destinos do país a negociar as
leis e medidas estratégicas, seja a nível económico ou social,
sendo necessária sempre abertura a diferentes visões.
Pode ser que
seja desta vez que se acabou o “quero, posso e mando” e a
conversa enjoativa do “voto útil”. Útil sim é a obrigação de
negociação entre os vários partidos, para que nenhuma parte da
população seja prejudicada.
por António Felizardo para o RiseUp Portugal