Existe uma mentalidade subjacente ao capitalismo, que se exacerba na
situação em que este se torna predominantemente financeiro e globalista,
de que os recursos existentes no planeta, devem ou têm de ser
explorados no interesse do lucro, independentemente dos prejuízos
colaterais ambientais e sociais, que tal possa provocar.
Mistificam a
atitude como se fosse de desenvolvimento e progresso; na realidade
sê-lo-ia, caso se contribuísse, ainda que indirectamente, para o
progresso social e económico das populações dos países onde se pratica;
mas a verdade, é que generalisticamente esses ataques ambientais, feitos
em nome do progresso, servem somente para alimentar o bolso de elites
residentes, conluiadas a maior das vezes com multinacionais, que
necessitam de matérias-primas ou produtos manufacturados aos preços que
lhe permitam maximizar os seus lucros.
Normalmente o custo do impacto
ambiental, é deveras superior ao proveito retirado; impacto que mesmo
reduzido ou mitigado, nunca repõe as condições originais, mesmo que
aproximadas; uma chaga, uma mudança radical paisagística, uma afectação
de solos incontornável.
O lucro alimentou momentaneamente o sistema, mas
as consequências nefastas afectarão as gerações futuras
irremediavelmente.
Sabedores somos todos, que o capitalismo
globalista aspira ao lucro máximo; procura adquirir a preços mais
reduzidos possíveis, as máximas quantidades necessárias à optimização do
seu lucro; logo entende que a exploração dos recursos deve ser massiva e
extensiva; assim dará prioridade, na aquisição, àqueles países cujos
custos de segurança ambiental sejam reduzidos ou inexistentes; ou cuja
disposição, para fornecer esses bens, levem a que se esqueçam de todos
os impactos negativos ; ou ainda cuja legislação seja suficientemente
permissiva, para que tudo se possa fazer, evitando investimentos de
controlo ambiental que encareçam o produto final. E sabem quem lá está
para tudo garantir a contento? Agora e sempre as elites, aquelas que sem
controlo devido, aspiram ao enriquecimento rápido, mesmo que em
detrimento dos países onde nasceram. Mas também não admira, os lucros
obtidos são passaporte seguro, para em emigração dourada rumarem a
outros portos.
Então constatemos exemplos:
Indonésia -
Plantações massivas de palmeiras, com o objectivo de produzir óleo de
palma, estão a substituir extensões enormes de floresta virgem nas ilhas
do Bornéu e Salawesi. Grandes empresas têm-se apropriado de enormes
extensões de terras, muitas delas ocupadas por comunidade indígenas, que
sempre viveram em comunhão de vida com as florestas. Destroem
irremediavelmente as florestas tropicais, com todo o seu manancial de
vida, muito ainda por descobrir cientificamente, como também o meio de
vida ancestral das populações que as habitavam, forçando a sua migração
para os bairros da lata periféricos das cidades.
China - A
industrialização apressada, desregrada e pelo menor custo tem preços, em
termos comunitários enormes. No Ocidente, as regulamentações
industriais de controlo da poluição têm custos que afectam os preços dos
produtos a jusante. Sabemos também, que a não implementação dessas
medidas representam para os trabalhadores e comunidades envolventes
sérios prejuízos económicos, sociais e em termos de saúde humana e
ambiental.
Agora imagine-se um país, que para obter investimento
estrangeiro, para o fabrico de toda a espécie de produtos se demite da
responsabilidade do combate a poluição e deixa o problema ao arbítrio
das empresas industriais. Na guerra de preços, porque se gere o
capitalismo global, é certo e sabido, que o investimento oneroso em
medidas anti-poluentes, não é bem-vindo; quanto mais barato for o
produto à saída da fábrica, mais competitivo será. Foi o que sucedeu na
China. Por detrás do milagre económico, sopra no ar, desagua nos rios,
amontoam-se em lixeiras o resultado terrível, da inépcia governamental,
que irá afectar gerações.
O PC Chinês discursa que é seu objectivo
atacar a poluição. Só que o mal está feito, e é muito difícil de
resolver. E se o quiser resolver, terá de subir os preços dos produtos
fabricados e perder poder concorrencial, para outra república das
bananas, situada perto. Eis o dilema. Lá se vão as taxas de crescimento
do PIB. A não ser que as fabriquem também.
EUA - O Fraking, é uma
técnica dita de revolucionária de extracção de gaz e petróleo,
nomeadamente em xistos profundos. Consiste na fracturação hidráulica da
rocha mãe, onde se situa a jazida. Começam por fazer uma perfuração até
ao nível desejado, após o que fazem uma perfuração horizontal até ao
local próprio. Então injectam no furo água com areia e aditivos químicos
a alta pressão. O Gás ou petróleo saem do furo junto com a maior parte
do material que se injectou.
A técnica em termos de rentabilidade
permitiu aceder a jazidas que até agora não eram susceptiveis de serem
exploradas. Permitiu também que os EUA, deixassem de ser dependentes,
pelos menos, nos próximos tempos, de produtos petrolíferos importados.
Alem disso permitiu, devido à quantidade produzida, baixar nos mercados
internacionais os preços das ramas petrolíferas. O mundo das maravilhas,
com um senão. Os aditivos químicos injectados poluem os lençóis
freáticos, e tornam a água impropria para consumo. Desconhecendo-se se a
natureza alguma vez terá a capacidade de a purificar novamente.
O lucro
imediato, gerando prejuízos futuros incomensuráveis. Mas os interesses
geoestratégicos americanos, que neste momento consistem em fazer “baixar
a crista”, a países como o Brasil e a Rússia mandam mais alto.
E
os nossos filhos, e os filhos dos nossos filhos cá estarão para
suportar, os “erros” daqueles para quem o poder e os lucros estão a
cima, da humanidade.