A resistência não-violenta é uma técnica de acção sócio-política para
a aplicação de poder num conflito sem o uso de violência física. A resistência não-violenta pode envolver actos de omissão, ou seja, as
pessoas podem recusar-se a realizar actos que normalmente fariam, que
seriam esperados de executar em condições normais, ou que são obrigados
por lei ou regulamentação a realizar; ou actos de comissão, ou seja, as
pessoas podem realizar actos que normalmente não fariam, que não seriam
esperadas fazer, ou mesmo que são proibidas de realizar, ou uma
combinação dos dois.
No entanto, como técnica, a resistência não-violenta não é passiva.
Não é inacção. É uma acção que é não-violenta. Esses actos incluem uma
infinidade de métodos específicos de acção ou "armas não-violentas".
Quase duzentos já foram identificados até à data, e sem dúvida, mais já
existem ou vão surgir em futuros conflitos.
Três grandes classes de
métodos não-violentos existem: protesto não-violento e persuasão,
não-cooperação e intervenção não-violenta.
A acção não-violenta
fornece uma forma de exercer poder, a fim de alcançar objectivos e
sancionar adversários sem o uso da violência física. De forma geral, a
acção não-violenta é a acção de um grupo ou de massas.
Enquanto
certas formas desta técnica, especialmente os métodos simbólicos, podem
ser consideradas como esforços para persuadir por acção, as outras
formas, especialmente as de não-cooperação, poderão, se praticados por
um grande número, coagir oponentes. Seja qual for o problema ou o grau
do conflito, a resistência não-violenta é uma técnica pela qual as
pessoas que rejeitam a passividade e submissão, e que vêem como
essencial a resistência, podem travar um conflito sem violência. A
resistência não-violenta não é uma tentativa de evitar o conflito. É uma
resposta para o problema de como exercer o poder de forma eficaz.
A resistência não-violenta é uma técnica de acção sócio-política para a
aplicação de poder num conflito sem o uso de violência física.
O que acção não-violenta não é :
1) A resistência não-violenta não tem nada a ver com passividade,
submissão ou cobardia; assim como na resistência violenta, estes devem
ser rejeitados e superados.
2) A resistência não-violenta não
deve ser equiparada com a persuasão verbal ou puramente acção
psicológica, embora possa usar a acção para induzir pressões
psicológicas para uma mudança de atitude; acção não-violenta, em vez de
palavras, é uma sanção e uma técnica de luta envolvendo o uso de poder
social, económico e político, e a correspondência entre as forças em
conflito.
3) A resistência não-violenta não depende do pressuposto de
que as pessoas são inerentemente "boas"; as potencialidades das pessoas,
tanto para o "bem" e o "mal" são reconhecidas, incluindo os extremos de
crueldade e desumanidade.
4) As pessoas que usam resistência
não-violenta não tem que ser pacifistas ou santas; a resistência
não-violenta tem sido praticada com sucesso predominantemente por
pessoas "comuns".
5) O sucesso com resistência não-violenta não
requer (embora possa ser ajudado por), normas e princípios comuns, um
alto grau de comunhão de interesses, ou um alto grau de proximidade
psicológica entre os grupos em conflito; isso é porque quando os
esforços para produzir uma mudança voluntária falham, podem ser
utilizadas medidas coercivas não-violentas.
6) A acção não-violenta é, um fenómeno tão ocidental como oriental;
na verdade, é provavelmente mais ocidental, se se levar em conta o uso
generalizado de greves e boicotes no movimento operário e das lutas não
cooperação de nacionalidades subordinadas.
7) Em acções
não-violentas não há nenhuma garantia de que o adversário se vai abster
de utilizar a violência contra activistas não violentos; a técnica é
desenhada para operar contra a violência quando necessário.
8)
Não há nada na resistência não-violenta para impedir que ela seja usado
para o "bem" ou para o "mal", embora as consequências sociais da sua
utilização por uma causa "má" podem diferir consideravelmente do uso de
violência utilizada nessa mesma causa.
9) A resistência
não-violenta não se limita aos conflitos domésticos dentro de um sistema
democrático; ela tem sido amplamente utilizada contra regimes
ditatoriais, ocupações estrangeiras e até mesmo contra sistemas
totalitários.
10) A resistência não-violenta nem sempre leva mais tempo
para produzir uma vitória que a luta violenta. Numa variedade de casos,
a luta não-violenta ganhou objetivos num tempo muito curto - tão pouco
como alguns dias. O tempo necessário para alcançar a vitória depende de
diversos factores - principalmente a força dos activistas não violentos.
Gene Sharp
Tradução RiseUp Portugal