Depois
de nos termos habituado ao golpe de teatro que foram os resultados
das últimas eleições legislativas, ficamos com a ligeira impressão
de que afinal quem saiu derrotado ficou com mais poder de decisão na
futura governação do país.
Tanto o BE, como a CDU e o próprio
PAN, podem ser considerados os grandes vencedores por terem aumentado
a sua influência perante o povo e que vai ser traduzida na
Assembleia da República em número de deputados. A coligação PáF
apesar de cantar vitória perdeu a maioria absoluta que deteve
durante 4 anos. Já o PS que partia como favorito para alcançar a
vitória foi perdendo credibilidade durante toda a campanha e pode-se
mesmo dizer que levou uma das maiores lições das últimas décadas.
No entanto é o PS que tem a faca e o queijo na mão e que se prepara
para manipular a governação de Portugal na próxima legislatura,
seja de que forma for.
Apesar
de existir uma ténue abertura dos olhos por parte da população,
refletida num aumento do número de votos e deputados por parte dos
partidos que se encontram fora do chamado “arco da governação”,
a manipulação da opinião pública através dos meios de
comunicação convencionais e também nas redes sociais, fez com que
os irmãos gémeos PS e PSD se mantenham no topo da preferência do
povo português. Mas o facto de nenhum deles ter conseguido a maioria
absoluta, nem mesmo juntando o CDS, faz com que estejamos perante um
marco histórico para Portugal, mas muito mais importante ainda para
o PS.
Basicamente, ou vai ou racha. Ou o PS se define de vez como um
partido de centro-esquerda (como tanto gostam de se intitular) ou se
junta de vez à governação da dita direita (como sempre fez nas
últimas décadas). No entanto existe ainda uma terceira hipótese,
que parece ser uma realidade a cada dia que passa ao vermos as
constantes declarações por parte de algumas pessoas com cargos e
elevado estatuto dentro do próprio PS a entrarem em confronto sobre
qual o caminho a seguir. Será este o princípio do fim de um partido
que sempre se designa como sendo algo contrário ao que sempre fez?
António Costa está a demonstrar o bom negociador/manipulador que
sempre foi. Não se define em nada e negoceia com Deus e com o Diabo
ao mesmo tempo. Para a atual direção do PS, este jogo de interesses
trás de novo protagonismo ao seu líder e por sua vez faz com que se
sintam importantes na manobra dos destinos de Portugal. De lado ficam
as discórdias internas onde todos opinam e ninguém se entende, onde
grupos de militantes de diferentes fações colocam em causa toda e
qualquer decisão tomada por quem está à frente do Partido. As
ruturas já não se conseguem disfarçar e seja qual for a opção de
António Costa uma coisa é certa, vários são os militantes que
precisam de voltar a ler um pouco sobre o que é o Socialismo, o que
defende e representa na altura de governar seja ao nível político,
económico ou social.
Estar
na liderança de um partido moribundo, cheio de sanguessugas sedentas
de poder, não será tarefa fácil mesmo para quem chegou a líder a
fazer o mesmo jogo de bastidores. Assim sendo, a pergunta que impera
é: E agora António? Ou vai ou racha.
por António Felizardo para o RiseUp Portugal