A P3 lançou recentemente uma entrevista com o fotógrafo argentino Pablo Piovano, que fez um espectacular trabalho fotográfico, retratando as vítimas argentinas das politicas e actividades das multinaionais do agro-tóxico no seu país.
Pablo Piovano encontrou casos de malformação, aborto espontâneo e cancro que aumentaram exponencialmente desde a implementação do uso dos glifosatos no cultivo de alimentos na Argentina há 20 anos. Estes são usados no cultivo de culturas agricolas transgénicas, das mesmas empresas que os produzem.
“Custa crer que boa parte dos alimentos que estão na nossa mesa diariamente sejam criados num laboratório e fumigados com químicos altamente tóxicos”, lamenta o fotógrafo argentino Pablo Piovano.
Pablo Piovano encontrou casos de malformação, aborto espontâneo e cancro que aumentaram exponencialmente desde a implementação do uso dos glifosatos no cultivo de alimentos na Argentina há 20 anos. Estes são usados no cultivo de culturas agricolas transgénicas, das mesmas empresas que os produzem.
“Custa crer que boa parte dos alimentos que estão na nossa mesa diariamente sejam criados num laboratório e fumigados com químicos altamente tóxicos”, lamenta o fotógrafo argentino Pablo Piovano.
Deixamos em baixo na íntegra a entrevista concedida à P3, mas queriamos também que dessem uma vista de olhos a este impressionante video, entitulado "O Custo Humano", feito a partir do trabalho (de arrepiar), de Pablo, que podem encontrar mais detalhado, também na P3 aqui.
Em Portugal, o uso de Glifosatos è já uma práctica corrente, assim como o cultivo de transgénicos. Este tipo de cultivos agricolas, que já se encontram banidos por toda a Europa, encontram grande recepção em Portugal e Espanha, em grande parte devido à abertura que este tipo de multinacionais recebem de classes e estruturas partidárias, assentes em valores que nada têm a ver com a protecção da saúde das suas populações.
Podem encontrar aqui, um Mapa dos cultivos de milho transgénico em Portugal, que se introduzem no território nacional, com o alto patrocínio de PS, PSD e CDS, que nos governos que constituiram os têm permitido, sendo que PSD e CDS, também fazem questão de os defender no Parlamento Europeu como podem ver aqui.
Segundo a Rede de Médicos de Povos Fumigados da Argentina —
organização independente que desenvolve estudos nas zonas onde são mais
frequentes as fumigações químicas sobre áreas cultivadas —, a saúde de
16,4 milhões de pessoas é afectada, o que se traduz em aproximadamente
um terço dos argentinos. “Em algumas povoações, no período de menos de
uma década, os casos de cancro infantil triplicaram, houve um aumento de
400% de casos de aborto espontâneo e de malformações em
recém-nascidos.” O glifosato e o 2.4D (que são também componentes do
famoso Agente Laranja) são herbicidas de uso corrente na Argentina. A Organização Mundial de Saúde classifica vários destes químicos como “potencialmente cancerígenos”, sem arriscar uma afirmação peremptória contra ou a favor da sua utilização.
Pablo Piovano
percorreu seis mil quilómetros no litoral e norte do país e conheceu
pessoalmente as vítimas do que considera tratar-se de “um genocídio
silencioso”. Na grande maioria dos casos que documentou em "O Custo Humano dos Agrotóxicos",
as vítimas são crianças/jovens cujos pais estiveram em contacto directo
com as substâncias tóxicas. O trabalho agrícola é o tipo de trabalho
mais comum na região visitada pelo fotógrafo, o que deixa a população
numa posição de enorme fragilidade.
"Um exemplo vivo do impacto dos agrotóxicos"
O projecto "O Custo Humano dos Agrotóxicos" inclui diversos casos,
mas aquele que Piovano considera mais impactante é o de Fabián Tomàsi.
“Ele fazia carga e descarga de químicos a partir de um avião” descreve.
“Contactou com todo o tipo de agroquímicos. Ele é o exemplo vivo do
impacto dos agrotóxicos na saúde humana. Tem politraumatismos de todo o
tipo: não pode levantar uma chávena de café, com as mãos não consegue
fazer nada e está fraco como um esqueleto” descreve o fotógrafo. Fabián é
conhecido na Argentina por dar voz à luta contra a utilização de
agrotóxicos, “está sempre aberto a falar sobre o assunto com qualquer
que seja o meio de comunicação social que o solicite”.
Outro caso que considera relevante é o de uma família da província de Misiones.
“Nesta família, todos tinham uma afecção resultante do contacto com
agrotóxicos.” Andrea inalou, aos 8 anos de idade, o pesticida
bromometano, o que resultou em 9 dias de internamento nos cuidados
intensivos, perda parcial de função motora e falência renal. Três vezes
por semana, Andrea faz diálise. “O irmão mais novo, que agora tem vinte
anos, é como um bebé. Tem problemas neurológicos graves. O pai tem
cancro.” A mãe morreu há anos, vítima de um enfarte do miocárdio em
sequência da notícia do internamento da filha.
"No que toca este assunto, existe paz entre governo e meios de comunicação"
Apesar das consequências da utilização de químicos na produção
alimentar, na Argentina, o assunto não é abordado com frequência pelos
meios de comunicação, segundo Pablo. “Na Argentina existe uma espécie de
guerra entre o oficialismo e os meios de comunicação social. No que
toca este assunto, existe paz entre ambos. É o que nós chamamos de ‘lado
de negócio’. Para mim é muito claro. Os meios de comunicação são
cúmplices das grandes corporações que detêm grande parte da terra e do
negócio.” Em 1996, o governo argentino assinou um acordo com a empresa
líder mundial no sector da biotecnologia agrícola, a Monsanto,
que introduziu no país a comercialização e produção de soja transgénica
e que abriu portas ao uso do herbicida glifosato, segundo o autor, “sem
qualquer análise científica ou avaliação de danos humanos”. Em
consequência, em 2012 “vinte e um milhões de hectares eram dedicados ao
cultivo de soja transgénica, cobrindo 60% da área cultivável do país. No
mesmo ano, “370 milhões de litros de agroquímicos foram aplicados no
solo argentino. Não existe qualquer lei na Argentina que regule a
utilização de herbicidas, apesar de o glifosato estar proibido em 74
países. Em 2014, os lucros da Monsanto rondaram os 16 mil milhões de
dólares”.
O vídeo do
projecto "O Custo Humano dos Agrotóxicos" inclui imagens inéditas e
testemunhos na primeira pessoa. O projecto do fotojornalista do "Pagina/12" já foi publicado em alguma imprensa da América Latina, na Burn Magazine e Photographic Museum of Humanity.