18/07/2016

Na Turquia não houve golpe. Houve teatro, assassinatos e consolidação de poder

"Tudo começou de forma inesperada, deixando o mundo de boca aberta, e levando muitos a pensar que poderia estar para breve o fim de Erdogan no 'trono' turco. Um golpe militar que correu o mundo na noite de sexta-feira, mas que acabaria por chegar ao fim, sem que os militares conseguissem alcançar o seu objetivo. Uma videochamada de Erdogan, em que apelava aos populares para que saíssem à rua em sua defesa, foi o suficiente para que o presidente turco visse o seu lugar resguardado. 

Agora, dois dias depois do Golpe de Estado falhado que abalou a Turquia, muito se questiona sobre o que pode mudar no país e em cima da mesa é posta também a possibilidade de este ataque ter sido, afinal, planeado." - mais no Notícias ao Minuto neste link 

"Depois de uma alegada tentativa de golpe de Estado por uma fação do exército turco na sexta-feira à noite, está lançada uma campanha reforçada de repressão e perseguição dos “responsáveis” — e é possível que hoje o partido AKP, do Presidente Erdogan, comece a negociar com a oposição a reinstauração da pena de morte com efeitos retroativos. Esta segunda-feira, os media turcos avançaram que entre os seis mil detidos estão pelo menos 103 generais e almirantes, entre eles o general Bekir Ercan Van, comandante da base aérea de Incirlik, uma base turca de importância redobrada pela sua localização estratégica, e que os EUA e restante coligação anti-Daesh tem estado a usar desde setembro na sua campanha contra o grupo radical no Iraque e na Síria. 

Também esta manhã, o diário turco "Hurriyet" avançou que 7850 agentes da polícia foram expulsos daquela força de segurança por suspeita de envolvimento na tentativa de deposição de Erdogan, a juntar aos mais de 2500 juízes espalhados pelo país que também foram despidos de funções." - mais no Expresso neste link 

"Na Turquia, o Presidente Erdogan teve um golpe de mestre – esse sim, o golpe de génio – ao falar ao povo, através do FaceTime, à CNN Türk. É o primeiro golpe de Estado, que me lembro, travado pelo iPhone. Nem Steve Jobs imaginaria o poder da sua “arma” de comunicação, capaz de barrar tanques (Maria da Fonte bem tentou com uma enxada pôr na ordem Costa Cabral, mas não conseguiu). Bastou Erdogan exortar a população para ir para as ruas travar o grupo de militares revoltosos e todos os comentadores portugueses na manhã seguinte já estariam a comer Nestum Mel com as “baboseiras” proferidas a quente na véspera. Que a polícia nunca teria meios para manietar os militares; que os militares são sempre mais fortes que os civis; que os militares em todo o mundo ou são respeitados ou dá bronca; que a Turquia caminhava para uma guerra civil … Um helicóptero, um caça e meia dúzia de tanques a bloquear a Ponte do Bósforo em Istambul não chegam para mudar o rumo político-constitucional de um estado gigante." mais no blogue Aventar neste link
 

Despedidos na Turquia quase 9.000 funcionários do Ministério do Interior

"Quase 9.000 funcionários do Ministério do Interior turco, na maioria polícias, foram despedidos após a tentativa falhada de golpe de Estado na Turquia, noticia hoje a agência noticiosa pró-governamental Anadolu. Segundo a agência, que cita fonte do Ministério do Interior, foram despedidos 4.500 polícias e 614 gendarmes, no total de 8.777 pessoas.

O Governo turco, liderado pelo Presidente Recep Erdogan, afastou também um governador provincial e 29 de outros tantos municípios, acrescentou a Anadolu. Os despedimentos surgem no quadro de uma vasta purga do aparelho do Estado desencadeada por Erdogan após a fracassada tentativa de golpe de Estado de sexta-feira para sábado, protagonizada por militares.

Por outro lado, cerca de 6.000 militares foram também suspensos das Forças Armadas e existem ainda cerca de 3.000 mandados de captura contra juízes, magistrados e procuradores. A purga atinge pessoas suspeitas de terem ligações ao pastor turco exilado nos Estados Unidos há 27 anos, Fethullah Gulen, causado por Erdogan de ter fomentado a tentativa de golpe de Estado. Gulen, por seu lado, negou qualquer envolvimento e não descartou a possibilidade de ter sido o próprio Presidente turco a organizar o golpe." - no DNoticias 

Primeiro Ministro turco admite o regresso da pena de morte 

"O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, garantiu este sábado que o país está “totalmente sob controlo” e que a situação está a voltar à normalidade em Ancara e Istambul. Afirmando que a “tentativa de golpe de Estado é uma mancha negra na democracia”, Binali Yildirim sublinhou que a pena de morte não está prevista na Constituição, mas poderá ser alvo de alterações no futuro, tendo em conta os “traidores.”" - no Expresso neste link

“Já ninguém acredita que tenha sido mesmo o Exército a levar isto a cabo” 

"Saiu-se à rua em Ancara mas não foi para encontrar amigos nem abanar o corpo até esquecer mais uma semana, foi sim, diz Harlaine, que tem 26 anos e vive em Ancara, “porque Erdogan chamou as pessoas para a rua com palavras de ódio. Há um chamamento religioso para a prece, chamado sela, que é utilizado para chamar as pessoas a rezar fora das horas estabelecidas. A sela tem ecoado a cada quinze minutos”, relata. Ao longo da noite tudo foi ficando mais claro, para Harlaine e para os seus amigos em contacto pelas redes sociais: e muito mais assustador nessa clareza. “Não quis acreditar que fosse possível mas agora todos achamos que isto foi feito pelo próprio Erdogan. É o que todos as pessoas com mais informação e formação académica estão a dizer: o Exército turco é organizado, limpo, metódico, inteligente e respeitador, nunca iriam nem bombardear o Parlamento nem trazer o caos às ruas”." - mais no Expresso neste link

Falhou o Golpe na Turquia. Pois Não Era o Que Parecia… 

"Depois de termos acompanhado, minuto a minuto, as últimas horas que se viveram na Turquia, eis a razão do desfecho da tentativa de golpe. O aparelho militar (tal como os media, a polícia militarizada e outros aparelhos de Estado) foram activamente infiltrados pelos gulenistas ao longo das últimas duas décadas. Erdogan tinha feito a “limpeza” dos gulenistas por todo o lado excepto no aparelho militar…" - mais no Jornal Tornado neste link 

"Os militares chegaram a atacar a sede do Parlamento e um helicóptero disparou contra os populares que vieram para as ruas protestar. Houve também aparentes tentativas de controlar a rádio e a televisão, mas – espantosamente! – a internet continuou a funcionar e foi através dela (FaceTime) que Erdogan se dirigiu aos seus apoiantes para virem para as ruas resistir. 

Se a tentativa de golpe foi genuína, os militares envolvidos deram provas de grande descoordenação e inépcia, mais parecendo estarem a executar um acto desesperado do que uma acção bem pensada e planeada. E no momento da verdade parece não terem tido estômago (ao contrário do general Al-Sisi, no Egipto, em 2013) para enfrentar e reprimir em grande escala a população que protestava. Ainda assim, dos confrontos resultaram quase três centenas de mortos, mais de cem entre os próprios militares, que baixaram as armas e passaram a ser perseguidos e atacados pelos populares.

Mas também não é de excluir que muitos dos membros das forças armadas envolvidos tenham sido induzidos em erro quanto à finalidade da operação. No sábado, alguns afirmaram terem sido enganados, dizendo que antes de saírem dos quartéis lhes comunicaram que se tratava de um simples exercício…" - mais no Jornal Tornado neste link

Os "Presentes de Deus a Erdogan"

"O presidente da Turquia, Recep Payyp Erdogan, afirma que a tentativa de golpe militar de sexta-feira foi um “presente de Deus”: vai permitir-lhe “limpar” as forças armadas. Quem fala verdade não merece castigo, pelo que todos os deuses evitarão punir o autocrata turco, embora sabendo que muitos são os seus pecados.
E “limpezas” são a especialidade deste padrinho e protector de uma miríade de grupos de mercenários e terroristas entre os quais se destacam, para os que não estão lembrados ou o ignoram, o Daesh ou Estado e Islâmico e a Al-Qaida nos seus muitos e variados heterónimos.
Limpou o país da oposição, acusando os principais adversários de servirem os direitos nacionais curdos e ameaçando privá-los da nacionalidade turca. Para que não surgissem obstáculos à sua ascensão ao topo presidencial do poder fez manipular actos eleitorais através da propaganda, da censura e do medo, de tal modo que nem os observadores do Conselho a Europa e da OSCE, embora reconhecendo as irregularidades em privado, ousaram torná-las públicas e definitivas.
Limpou o aparelho judiciário e militar saneando centenas de juízes e os procuradores que denunciaram a corrupção governamental e da família Erdogan, designadamente a sua familiaridade pessoal e financeira com o banqueiro saudita Yassim al-Qadi, próximo de Bin Laden e conhecido internacionalmente como “o tesoureiro da Al-Qaida”. Por essa razão, está sob a mira da ONU, o que não o impede de deslocar-se a Ancara em avião privado para conviver e gratificar generosamente a família presidencial.
Vem limpando paulatinamente as forças armadas, mas este “presente de Deus”, como admitiu o próprio Erdogan, proporciona-lhe uma oportunidade de ouro para acelerar o processo. A partir de agora ruirá o maior obstáculo secular à confessionalização de um regime turco formatado em estrutura ditatorial e em teor fundamentalista islâmico.
Erdogan fala claro, disso não tenhamos dúvidas. Há 20 anos, em plena ascensão na carreira política, iniciada entre os fascistas e supremacistas “lobos cinzentos”, definiu a democracia como “um eléctrico que abandonamos quando chegamos à nossa paragem”. Recentemente falhou a consulta para impor uma Constituição “inspirada em Hitler” – as palavras são suas – de modo a consolidar um poder presidencial absoluto.
A seguir a esse intuito por ora fracassado, Erdogan começou então a receber “presentes de Deus”. O atentado contra o aeroporto de Istambul parece ter sido um deles." - mais em Mundo Cão neste link