Segundo dados da UNICEF, seis milhões de crianças continuam a morrer
no mundo todos os anos devido a causas que são evitáveis. Apesar dos
progressos alcançados nas últimas décadas — há 15 anos havia quase o
dobro das crianças hoje nesta situação — a UNICEF recorda que as
crianças dos agregados familiares mais pobres têm duas vezes mais
probabilidades de morrer antes dos cinco anos do que as crianças dos
meios mais ricos. E a verdade é que doenças infecciosas, diarreia,
desidratação mortal e subnutrição crónica, causas de morte da maior
parte destas crianças, seriam tratáveis a custos relativamente baixos.
Mas, analisando a questão mais globalmente, e se evitada a morte
destes seis milhões de crianças anualmente, a verdade é que também seria
necessário alimentar, educar e empregar mais uns quantos milhões de
seres humanos todos os anos poupados a este genocídio.
Ora, o sistema
capitalista, que domina à escala mundial e cujo objectivo central é a
obtenção do lucro máximo e a acumulação de capital, é um sistema que
constrói grandes hotéis de luxo, carros e iates de milhões, sofisticado
armamento, além de possibilitar o voo em poderosas naves espaciais. Mas,
ao mesmo tempo, é também um sistema que não se mostra capaz de
resolver pequenos problemas de saúde e de vida de milhões de crianças,
assim como de muitas outras centenas de milhões de seres humanos. Assim,
seria de esperar que um tal sistema fosse capaz de resolver os grandes
problemas da Humanidade?
Mais, a UNICEF afirma que são quase 385 milhões as crianças a viver
em situação de pobreza extrema e mais de 250 milhões de crianças em
idade escolar não estão a frequentar a escola ou a aprender. E
acrescenta: “Os direitos das crianças encurraladas em zonas sob cerco —
nomeadamente na Síria, no Iraque, no norte da Nigéria — estão ainda mais
ameaçados, pois as suas escolas, hospitais e casas têm sido alvo de
ataques. A directora executiva da UNICEF Portugal sublinha que os
conflitos, as crises e a pobreza extrema estão “a colocar a vida e o
futuro de milhões de crianças em risco”. O que o relatório não diz (ou
até sugere soluções enviesadas) é que as guerras que refere responsáveis
por algumas destas situações, geralmente foram promovidas e alimentadas
pelos países imperialistas, tal como EUA, França, Reino Unido e
Alemanha.
Em Portugal, a UNICEF reconhece os progressos alcançados desde a
década de 1990, com especial destaque para a redução da mortalidade
infantil. E acrescenta: “outros problemas agravaram-se ou persistem nos
últimos anos, como a pobreza infantil, que afecta perto de um quarto das
crianças em Portugal”. Refere ainda a UNICEF Portugal que estes são
problemas altamente preocupantes e que exigem políticas e medidas
concretas — sabendo-se que “a pobreza e as privações na infância, na
esmagadora maioria dos casos, condicionam não apenas o presente das
crianças mas também o seu futuro e o futuro da sociedade”. Certamente
que, também neste campo, nos tempos da troika e do seu governo PSD/CDS, o
agravamento verificado nas desigualdades, e apesar do relatório da
UNICEF não o dizer, também se deve ter traduzido numa influência
negativa no evoluir da situação portuguesa.
Sendo meritória a denúncia e altamente preocupantes os dados
revelados pela UNICEF Portugal, assim como fortemente condenáveis os
responsáveis por esta intolerável situação, o relatório da UNICEF
limita-se a referir particularmente as consequências do actual sistema
mundial, mas nada aprofunda (não pode, dada a estrutura e a dependência
destas organizações, assim como a natureza de classe dos seus
dirigentes) sobre as causas fundamentais do descrito: a ordem mundial do
sistema capitalista e o imperialismo são efectivamente os grandes
responsáveis pelo que acontece neste campo, dadas a opressão e a
exploração que exercem sobre os trabalhadores e os povos.
por Pedro Goulart no Jornal Mudar de vida
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