23/01/2017

UNICEF: 6 milhões de crianças morrem por ano de causas evitáveis

Segundo dados da UNICEF, seis milhões de crianças continuam a morrer no mundo todos os anos devido a causas que são evitáveis. Apesar dos progressos alcançados nas últimas décadas — há 15 anos havia quase o dobro das crianças hoje nesta situação — a UNICEF recorda que as crianças dos agregados familiares mais pobres têm duas vezes mais probabilidades de morrer antes dos cinco anos do que as crianças dos meios mais ricos. E a verdade é que doenças infecciosas, diarreia, desidratação mortal e subnutrição crónica, causas de morte da maior parte destas crianças, seriam tratáveis a custos relativamente baixos.

Mas, analisando a questão mais globalmente, e se evitada a morte destes seis milhões de crianças anualmente, a verdade é que também seria necessário alimentar, educar e empregar mais uns quantos milhões de seres humanos todos os anos poupados a este genocídio. 

Ora, o sistema capitalista, que domina à escala mundial e cujo objectivo central é a obtenção do lucro máximo e a acumulação de capital, é um sistema que constrói grandes hotéis de luxo, carros e iates de milhões, sofisticado armamento, além de possibilitar o voo em poderosas naves espaciais. Mas, ao mesmo tempo, é também um sistema que não se mostra capaz de resolver pequenos problemas de saúde e de vida de milhões de crianças, assim como de muitas outras centenas de milhões de seres humanos. Assim, seria de esperar que um tal sistema fosse capaz de resolver os grandes problemas da Humanidade?

Mais, a UNICEF afirma que são quase 385 milhões as crianças a viver em situação de pobreza extrema e mais de 250 milhões de crianças em idade escolar não estão a frequentar a escola ou a aprender. E acrescenta: “Os direitos das crianças encurraladas em zonas sob cerco — nomeadamente na Síria, no Iraque, no norte da Nigéria — estão ainda mais ameaçados, pois as suas escolas, hospitais e casas têm sido alvo de ataques. A directora executiva da UNICEF Portugal sublinha que os conflitos, as crises e a pobreza extrema estão “a colocar a vida e o futuro de milhões de crianças em risco”. O que o relatório não diz (ou até sugere soluções enviesadas) é que as guerras que refere responsáveis por algumas destas situações, geralmente foram promovidas e alimentadas pelos países imperialistas, tal como EUA, França, Reino Unido e Alemanha.

 
Em Portugal, a UNICEF reconhece os progressos alcançados desde a década de 1990, com especial destaque para a redução da mortalidade infantil. E acrescenta: “outros problemas agravaram-se ou persistem nos últimos anos, como a pobreza infantil, que afecta perto de um quarto das crianças em Portugal”. Refere ainda a UNICEF Portugal que estes são problemas altamente preocupantes e que exigem políticas e medidas concretas — sabendo-se que “a pobreza e as privações na infância, na esmagadora maioria dos casos, condicionam não apenas o presente das crianças mas também o seu futuro e o futuro da sociedade”. Certamente que, também neste campo, nos tempos da troika e do seu governo PSD/CDS, o agravamento verificado nas desigualdades, e apesar do relatório da UNICEF não o dizer, também se deve ter traduzido numa influência negativa no evoluir da situação portuguesa. 

Sendo meritória a denúncia e altamente preocupantes os dados revelados pela UNICEF Portugal, assim como fortemente condenáveis os responsáveis por esta intolerável situação, o relatório da UNICEF limita-se a referir particularmente as consequências do actual sistema mundial, mas nada aprofunda (não pode, dada a estrutura e a dependência destas organizações, assim como a natureza de classe dos seus dirigentes) sobre as causas fundamentais do descrito: a ordem mundial do sistema capitalista e o imperialismo são efectivamente os grandes responsáveis pelo que acontece neste campo, dadas a opressão e a exploração que exercem sobre os trabalhadores e os povos.

por Pedro Goulart no Jornal Mudar de vida
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