13/12/2016
Na rota da morte
Pobreza extremada. Escravatura. Poluição. Terrorismo. Guerras sem freio. A isto nos conduziram os modernos dias de apogeu da civilização, num mundo cada vez mais desigual, cada vez mais envenenado, cada vez mais assente no consumo, a via única para o progresso económico, dizem à esquerda, à direita, à saciedade.
E os povos, os mesmos que enriquecem até à demência 1% da população mundial, trabalham mais horas por menos dinheiro e menos direitos, matam-se e morrem, mas elegem alegremente os seus algozes, admiram os ricos e os famosos, comem, no chão, as migalhas que caem das fartas mesas dos senhores do Universo, invejando-lhes o donaire, as vestes, os dourados das mansões de milhões, as colecções de arte, de carros, de escândalos.
Voltámos à idade média. Nada aprendemos com o tempo e com os sacrifícios dos nossos mártires. Caminhamos para a destruição, o genocídio que se estenderá de Aleppo às favelas do Rio, aos casebres de Porto Príncipe, às palhotas de Mogadíscio, aos campos de refugiados de Dadaab, Kakuma, Yida
Mas, aqueles que podem, que ainda conseguem, têm a favor da sua inconsciência os reality shows, a informação desgraçada, o refúgio das religiões, o escape do futebol e as compras, do último modelo automóvel, do último telemóvel, do último jogo electrónico, do último grito da moda, o vestido barato que tão caro saiu aos escravos das sweatshops.
Vivemos, os que podemos, na grande farra. Até ao estertor final, ao qual não escaparão, fraco consolo, os Trumps e as trampas do pior capitalismo que nos foi dado viver. E pelo qual iremos morrer, de mãos postas em louvor de deuses, ditadores, investidores, empreendedores, rapazes negreiros de um tempo que se finda.
por Manuel Cruz
Quatro Almas