Os problemas respiratórios, cardíacos e as doenças
infecciosas aumentam com a subida da temperatura média. O combate aos
gases com efeito de estufa é também uma questão de saúde, alertam
especialistas em Medicina Interna.
O clima mudou, continua a mudar, mas a maior parte de nós continua a
enfiar a cabeça na areia, alheado de uma realidade bem expressa em
dados: 2016 foi o ano mais quente desde que há registo; a Organização
Mundial de Saúde estima que todos os anos morram 150 mil pessoas por
causa das alterações climáticas; atualmente, 96% do território nacional
está em situação de seca e só na onda de calor de 2013 morreram 1 700
portugueses por problemas de saúde relacionados com a temperatura
extrema.
Num inquérito feito aos especialistas em Medicina
Interna, 90% deles afirmou que "as alterações climáticas já estão a ter
efeitos na saúde dos portugueses", revela à VISÃO o presidente da
Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Luís Campos. As doenças
respiratórias são as mais referidas pelos médicos portugueses, sendo os
grupos mais frágeis, como os idosos, as crianças ou os que vivem em
piores condições de habitação ou alimentares os que mais sofrem.
A nível
mundial, têm vindo a aumentar os AVC, a doença coronária, a bronquite
crónica, as doenças infecciosas, e ainda as patologias relacionadas com a
qualidade da água, como a cólera, ou as que são transmitidas por
mosquitos, como a malária e o dengue. Também aumentam as vítimas de
catástrofes naturais, como as cheias ou os furacões, os problemas
mentais em pessoas obrigadas a emigrar.
Por altura do Dia Mundial
do Ambiente, celebrado a 5 de junho, a Sociedade alertou médicos e
sociedade em geral para os problemas relacionados com a subida da
temperatura média, reforçando o papel de cada um de nós.
Também é
objetivo das SPMI que a atenção ao ambiente comece nos próprios
hospitais. "Os hospitais são responsáveis pelo consumo de 11% da
eletricidade e 18% do gás natural. São ainda produtores de 108 mil
toneladas de resíduos", avança Luís Campos. "O combate às alterações
climáticas deve ser uma prioridade e o setor da saúde devia dar o
exemplo", sublinha o médico.
Pela sua saúde, recomenda a
Sociedade, ande a pé, de bicicleta ou de transportes públicos, escolha
carros menos poluentes, reduza o consumo de energia, o lixo e a carne na
alimentação, coma frutas e legumes de produção local e sazonal, não
beba bebidas engarrafadas em garrafas de plástico.