"Os capitalistas e respectivos altos
funcionários vão promover a consciência dos trabalhadores para a
injustiça do sistema e defender que há alternativas às políticas que
eles acham que servem os seus interesses? É muito provável que não.
Adivinhem quem são os donos da maioria dos órgãos de comunicação social?
Neste quadro podemos constatar que os defensores das políticas que
favorecem a classe dominante estão em grande maioria no espaço
mediático. Há sectores político-ideológicos hiper-representados. Como se
isso não bastasse, há toda uma indústria de negatividade e distracções
que desvia a atenção das pessoas. Os truques abundam."
Realizemos um breve exercício historiográfico para compreendermos o
estado actual e a crescente desconfiança existente em relação à
comunicação social dominante.
Qualquer semelhança com a realidade
histórica e com a actualidade não são meras coincidências:
1. Imaginem o feudalismo, sistema socioeconómico
que existiu na Europa durante a Idade Média, no qual havia duas classes
principais: os senhores feudais e os servos. A servidão era uma relação
de trabalho na qual o servo era obrigado a pagar rendas em géneros,
serviços laborais e impostos ao senhor feudal. Os senhores
apropriavam-se de uma parte significativa do que era produzido pelos
servos para poderem sustentar o seu estilo de vida e realizar os seus
objectivos.
1.1. Os senhores feudais ou o seu séquito
próximo procuravam esclarecer os servos para a injustiça vigente e
incentivavam-nos à desobediência? Teriam muitos deles sequer consciência
da injustiça? Por exemplo, o Xerife de Nottingham comunicava aos servos
do seu domínio que a acção do Robin dos Bosques era justa e que a vida
na floresta de Sherwood era boa? É muito provável que não. As narrativas
produzidas enobreciam os senhores feudais e denegriam os que não se
submetiam ou combatiam a ordem vigente. As ameaças de punição e o poder
das armas promoviam o medo nos servos.
2. Imaginem a escravatura, um sistema socioeconómico
que existiu em diferentes períodos históricos e regiões do globo, que
se baseia na existência de duas classes principiais: os escravos e os
donos de escravos. Os escravos são propriedade e realizam a maioria do
trabalho produtivo. O dono tem o direito de dirigir o trabalho do
escravo e de propriedade sobre o produto do seu trabalho. Tem ainda o
direito de propriedade sobre os descendentes do escravo e o direito de
vender o escravo.
2.1. Os donos dos escravos e respectivos
capatazes esclareciam os escravos sobre a injustiça e imoralidade da sua
condição, incentivavam-nos a fugir ou diziam-lhes que caso fugissem
podiam ter uma vida melhor? É muito provável que não. Os escravos eram
ameaçados, convencidos que a sua situação não era assim tão má (podiam
comer e apesar de pouco tinham onde dormir), sofriam punições
constantes, eram perseguidos e provavelmente mortos caso se atrevessem a
fugir.
3. Analisem o capitalismo, sistema
socioeconómico actualmente dominante à escala global, baseado na relação
entre duas classes principais: os capitalistas e os trabalhadores. Os
capitalistas apropriam-se e são proprietários dos meios de produção e
contratam trabalho assalariado para produzir mercadorias com a intenção
realizar lucro. Ficam com os lucros e tomam a maioria das decisões
económicas.
3.1. Os capitalistas e respectivos altos
funcionários vão promover a consciência dos trabalhadores para a
injustiça do sistema e defender que há alternativas às políticas que
eles acham que servem os seus interesses? É muito provável que não.
Adivinhem quem são os donos da maioria dos órgãos de comunicação social?
Neste quadro podemos constatar que os defensores das políticas que
favorecem a classe dominante estão em grande maioria no espaço
mediático. Há sectores político-ideológicos hiper-representados. Como se
isso não bastasse, há toda uma indústria de negatividade e distracções
que desvia a atenção das pessoas. Os truques abundam.
4. O actual modelo de comunicação social está em
crise a vários níveis. Uma democracia requer participação, debate
plural e procura da verdade nos órgãos de comunicação social. Se
queremos encontrar as melhores soluções e caminhos para a sociedade é
fundamental que haja um jornalismo respeitado e respeitador da
deontologia da profissão. Com profissionais com estabilidade e
remuneração apropriada. O jornalismo é um serviço público. Por isso,
necessitamos de um robusto e abrangente sector público de comunicação
social. Um sector de referência de qualidade, devidamente financiado,
onde a isenção, independência e pluralidade possam florescer.