Desenvolvimento
económico e social. O que é? Em que consiste? O que deve ser? São
estas as perguntas-chave para combater as mistificações que nos
andam sempre a impingir.
Alguém
meu conhecido, em conversa comigo decorrida há algum tempo,
estabeleceu um termo de comparação muito interessante sobre o
desenvolvimento económico e social de duas ex-colónias portuguesas,
baseando-se numa constatação visual muito simples: se as crianças
do povo usavam sapatos, ou não, quando iam à escola.
Num deles,
apesar dos rios de dinheiro que tem desaguado na sua economia, a
maior parte das famílias não ganhavam dinheiro suficiente para
comprar sapatos para os filhos; noutro pelo contrário, embora fosse
um país mais pobre, a maior parte das crianças usava sapatos.
Isto
revela-nos, até que ponto o tal desenvolvimento económico e social
de um país pode ser aparente. O PIB pode ter eventualmente grandes
acréscimos anuais e isso pouco contribuir para o progresso de um
povo. Pois se esse “crescimento” não contribuir para um real
desenvolvimento económico e humano das suas populações, pouco
valerá a tal subida exponencial do “PIB”, mesmo que
materializado em grandes aparências.
Pois
verdadeiro desenvolvimento será quando todo um país se desenvolve
como unidade integrada; quer dizer, desenvolve as suas capacidades
económicas, sociais, tecnológicas e científicas, de modo a que
toda a população tenha a possibilidade de delas usufruir; e mais
ganhe a capacidade de as projectar no futuro, em benefício de todo o
seu colectivo. Constatemos algumas situações….
Poder-se-á
chamar de desenvolvimento real e humano, ao crescimento económico
chinês? Um viveiro de multimilionários, crescidos à sombra do PC
Chinês, pela especulação imobiliária, pela corrupção assente na
posse do poder, pela exploração desenfreada de um bilião de
pessoas. Construíram grandes cidades, muitas desabitadas; grandes
estruturas viárias e ferroviárias; grandes barragens e tudo o mais;
sem dúvida! Até evoluíram muito tecnologicamente e produtivamente.
Mas
um rasto de poluição cobre o país; a grande maioria da população
vive no limiar da sobrevivência; a sua economia vive dependente do
mercado externo e condicionada pela sua evolução. E muito
importante, revela-se incapaz de promover um desenvolvimento
disseminado e abrangente, que proporcione à sua população um nível
de vida que permita o desafogo económico. O que será deste povo,
caso uma crise séria e global económica estale? Irão viver de novo
as fomes do tempo de Mao?
Poder-se-á
designar de desenvolvimento, a inqualificável situação interna dos
EUA?A Nação mais poderosa do Mundo; o país mais rico do planeta; o
povo com mais recursos, tanto tecnológicos, como humanos, como
naturais. Permitiu-se criar fortunas privadas estratosféricas,
através da especulação financeira e económica, mas também
através da fraude bancária indiscriminada, ao mesmo tempo que o
Estado americano se encarregava de assumir uma divida monstruosa,
eterna e sem limite, a pagar por todos os americanos que fazem do
trabalho vida, e da vida encargo, destinado a pagar impostos a um
Estado, que é mãe de alguns e padrasto de quase todos. Um país
riquíssimo, criador de cinquenta milhões de pobres e excluídos, e
muitos milhões de remediados, que vivem o seu dia a dia, chupados
por um sistema neoliberal sem escrúpulos, nem falta de avidez. Que
perspectivas poderá ter um povo, cujo próprio Estado o descrimina?
Poder-se-á
apelidar de desenvolvimento, a situação interna da Arábia Saudita?
Coio de fundamentalistas religiosos, que nadam em petróleo e
petrodólares. Palácios e mesquitas das mil e uma noites, ao lado
das casas de habitação social de milhões de desempregados. Elites
podres de ricas, que vão sugando os recursos de uma terra que
pertence a todos, mas que só é usufruto de alguns. Marcados por
anátemas culturais da idade média, que fazem da mulher ente
inferior e humilhável, da religião instrumento de ditadura e da
riqueza foco de extrema clivagem entre aqueles que pertencem ao
círculo do poder e os outros que vivem no limiar da pobreza. O que
será deste povo, quando o petróleo faltar? Irão voltar a
apascentar camelos? Se calhar serão mais felizes.
Antes
da crise das dívidas soberanas, quase todo o mundo pensava que a
Grécia era um exemplo de desenvolvimento imparável. Afinal, em
2004, permitiu-se organizar os Jogos Olímpicos; obras faraónicas de
regime foram edificadas; suportavam gastos militares enormes para um
país de população reduzida; e os salários, principalmente do seu
funcionalismo público eram generosos. Quando a máscara caiu, a
verdadeira natureza etérea da sua economia revelou-se.
Uma fraude
enorme das suas contas públicas; corrupção generalizada nas suas
elites políticas e económicas; uma divida imensa ao exterior. E a
tragédia grega da fome e da miséria abateu-se em cima daquele
desgraçado povo. Mas também se revelaram falsas e desajustadas as
políticas de desenvolvimento da CE; grandes responsáveis por
incentivo, conluio e cumplicidade; grandes responsáveis por
introduzirem políticas neoliberais na Europa, que desestruturaram as
economias mais frágeis; grandes responsáveis porque apesar
conhecerem as debilidades do país, não tiveram pejo em incentivar o
seu endividamento para que as grandes multinacionais europeias
auferissem grandes proventos. Mas essa culpa, não os impediu de
enviar as Troikas, fazer o seu papel de carrascos e de destruição
dos restos de independência que ainda sobrasse. É este
pseudo-desenvolvimento, que privilegia os lucros para os grandes
grupos económicos da Europa, já nós conhecemos. Significa pobreza,
retrocesso, austeridade e emigração e está a submergir a Europa.
Querem
ouvir falar de um país e desenvolvimento? A Islândia.
Aquela,
daqueles que se atreveram a esclarecer peremptóriamente ao Mundo:
Não pagamos. Não suportamos, nem suportaremos o custo das fraudes
bancárias, e neste bocado de terra mandamos Nós! E sabem porque é
que é um país desenvolvido projectado para o futuro? Porque os seus
recursos económicos e financeiros estão ao serviço das populações
e não de elites predatórias. Porque o seu esforço e o seu trabalho
são utilizados não só na sua existência, mas também na
preparação da melhoria do seu futuro. Infraestruturas, educação,
investigação; preservação de recursos, desenvolvimento produtivo,
qualidade de vida das populações. E agora disseram Não à entrada
para a CE! Não estão interessados em ser destruídos. Perceberam?
por Octavio Serrano para o RiseUp Portugal