O PSD quer saber de quanto é que a Caixa
Geral de Depósitos precisa para reforçar o seu capital e o que justifica
esse montante. Quer o PSD saber e queremos todos nós. Mas se é para
saber mesmo, então vamos começar a contar a história desde o princípio,
quando em 1995 Rui Vilar abandonou a presidência da instituição.
A
partir daí, pouco a pouco, PS, PSD e CDS politizaram as sucessivas
administrações da CGD e utilizaram-na para os seus objetivos, quer de
negócios quer para pagar favores políticos. Passou a ser aceite como
natural haver a quota de administradores do CDS (Celeste Cardona, Nuno
Fernandes Thomaz…) e os presidentes deviam ser do PS quando o PSD estava
no poder e vice-versa.
Foi possível assistir a uma batalha entre um
chairman (António de Sousa) e o CEO (Mira Amaral), acabando os dois na
rua.
Foi possível um dos melhores secretários de Estado dos Assuntos
Europeus que o país conheceu, Vítor Martins, ser nomeado presidente da
CGD, sem ter experiência de banca. Foi possível o escândalo, durante a
administração de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, de a CGD
financiar o empresário Joe Berardo para este comprar ações do BCP e
intervir na guerra pelo controlo daquele banco — dando como garantia as ações…
Foi possível, no tempo de Faria de Oliveira, ver a Caixa apostar no
mercado espanhol e a estratégia saldar-se por um rotundo falhanço, com
pesados prejuízos. Foi possível obrigar a Caixa a engolir o BPN e
suportar as pesadas perdas associadas.
Foi possível assistir a uma pessoa sem cargo oficial mas que apoiava o Governo PSD/CDS nas privatizações, o falecido António Borges, obrigar a administração da Caixa a vender a sua participação na Cimpor por um preço claramente inferior ao que o mercado estaria disposto a pagar — com a CGD a engolir as perdas.
A CGD também
teve de tomar participações acionistas no BCP e na PT, que depois teve
de vender com largos prejuízos. Enfim, como sintetizou Nogueira Leite,
vice-presidente da Caixa no tempo de Faria de Oliveira e que se demitiu,
a Caixa funcionou, demasiado tempo, como “barriga de aluguer da
política pública, da política governamental, da criação de campeões
nacionais, centros de decisão nacional ou do que quer que fosse”. E a
responsabilidade é de sucessivos governos do PS, PSD e CDS, que se
entenderam ao longo de anos para partilhar a Caixa como um despojo das
suas guerras políticas. Acresce que cerca de 50% do crédito concedido
pela Caixa é para financiar a compra de habitação, o que, tendo em conta
a evolução das taxas de juro, prejudica muito os resultados.
A pouco a pouco, PS, PSD e CDS
politizaram as administrações da CGD e utilizaram-na para os seus
objetivos, quer de negócios quer para pagar favores políticos.
É por tudo isto que a Caixa vai precisar
de um pesado aumento de capital. E é também por isso que vai ter de
reduzir dois mil postos de trabalho. Heranças dos desmandos de
sucessivos governos — que, mais uma vez, serão pagos pelos contribuintes.
por Nicolau Santos no Expresso