A conversa revelada pelo Wikileaks
aconteceu a 19 de março e é a transcrição de uma teleconferência entre
Poul Thomsen (diretor do FMI para a Europa) e Delia Velculescu (chefe de
missão do FMI para a Grécia). Para além de defender a necessidade de um
acontecimento semelhante ao default grego de 2015, Thomsen propõe
confrontar Angela Merkel com a ameaça da saída do FMI nas negociações,
fragilizando-a junto da sua base parlamentar, para obter em troca a luz
verde para a restruturação da dívida da Grécia.
Os dois responsáveis do Fundo mostram-se insatisfeitos com as
negociações em curso e tentam desenhar uma estratégia que obrigue a
Comissão a aceitar as metas de redução do défice grego propostas pelo
FMI, que obrigam a uma dose suplementar de austeridade sobre a Grécia,
muito para além da prevista no acordo assinado em julho.
Rapidamente Thomsen e Velculescu concordaram que tal só será possível
se se repetir um acontecimento como o do passado mês de junho, com o
país a ser obrigado a suspender os pagamentos aos credores. Na opinião
dos dois responsáveis do Fundo, esta nova bancarrota grega obrigaria
Berlim e Bruxelas a agirem em vez de prosseguirem as intermináveis
negociações que recomeçam esta semana, antevendo uma Europa paralisada
politicamente em maio por causa a campanha do referendo britânico.
O primeiro-ministro grego convocou uma reunião de emergência com alguns
ministros sobre esta revelação e pediu explicações a Christine Lagarde,
nomeadamente se aquela é a posição oficial do FMI. Para o governo grego,
as condições de credibilidade e confiança nas negociações com o FMI
estão agora prejudicadas.
Também o presidente grego, Prokopis Pavlopoulos, reagiu à divulgação
da reunião dos responsáveis do FMI, exigindo que o Fundo seja
substituído nas negociações pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade.
FMI e Comissão Europeia nunca se entenderam sobre o plano para a Grécia
O FMI sempre pôs como condição
para entrar no programa de financiamento à Grécia uma solução para a
insustentabilidade da dívida grega. Mas a restruturação da dívida foi
desde sempre um tabu para Berlim, a menos que a Grécia saia do euro, como chegou a propor Schäuble
na reunião de Bruxelas que acabou por resultar no terceiro memorando
ainda em negociação. Para convencer Merkel a aceitar a restruturação,
Thomsen sugere confrontá-la com a ameaça de saída do FMI do programa de
financiamento à Grécia, uma situação que a maioria do parlamento alemão
não iria aceitar.
A restruturação da dívida é um dos objetivos assumidos também pelo
governo grego desde a sua primeira eleição, mas as condições que o FMI
procura impor ao país – na linha da austeridade que já impôs nos últimos
anos e destruíram a economia grega – são recusadas desde sempre por
Atenas. Alexis Tsipras nunca escondeu o desejo de ver o Fundo fora da
gestão do programa, propondo uma alternativa 100% europeia.
fonte : Infogrécia