29/09/2015

Desenvolvimento Neoliberal - O caminho para o sub-desenvolvimento

Desenvolvimento económico e social. O que é? Em que consiste? O que deve ser? São estas as perguntas-chave para combater as mistificações que nos andam sempre a impingir.
Alguém meu conhecido, em conversa comigo decorrida há algum tempo, estabeleceu um termo de comparação muito interessante sobre o desenvolvimento económico e social de duas ex-colónias portuguesas, baseando-se numa constatação visual muito simples: se as crianças do povo usavam sapatos, ou não, quando iam à escola. 
Num deles, apesar dos rios de dinheiro que tem desaguado na sua economia, a maior parte das famílias não ganhavam dinheiro suficiente para comprar sapatos para os filhos; noutro pelo contrário, embora fosse um país mais pobre, a maior parte das crianças usava sapatos. 
Isto revela-nos, até que ponto o tal desenvolvimento económico e social de um país pode ser aparente. O PIB pode ter eventualmente grandes acréscimos anuais e isso pouco contribuir para o progresso de um povo. Pois se esse “crescimento” não contribuir para um real desenvolvimento económico e humano das suas populações, pouco valerá a tal subida exponencial do “PIB”, mesmo que materializado em grandes aparências.
 
Pois verdadeiro desenvolvimento será quando todo um país se desenvolve como unidade integrada; quer dizer, desenvolve as suas capacidades económicas, sociais, tecnológicas e científicas, de modo a que toda a população tenha a possibilidade de delas usufruir; e mais ganhe a capacidade de as projectar no futuro, em benefício de todo o seu colectivo. Constatemos algumas situações….
Poder-se-á chamar de desenvolvimento real e humano, ao crescimento económico chinês? Um viveiro de multimilionários, crescidos à sombra do PC Chinês, pela especulação imobiliária, pela corrupção assente na posse do poder, pela exploração desenfreada de um bilião de pessoas. Construíram grandes cidades, muitas desabitadas; grandes estruturas viárias e ferroviárias; grandes barragens e tudo o mais; sem dúvida! Até evoluíram muito tecnologicamente e produtivamente.
Mas um rasto de poluição cobre o país; a grande maioria da população vive no limiar da sobrevivência; a sua economia vive dependente do mercado externo e condicionada pela sua evolução. E muito importante, revela-se incapaz de promover um desenvolvimento disseminado e abrangente, que proporcione à sua população um nível de vida que permita o desafogo económico. O que será deste povo, caso uma crise séria e global económica estale? Irão viver de novo as fomes do tempo de Mao?
Poder-se-á designar de desenvolvimento, a inqualificável situação interna dos EUA?A Nação mais poderosa do Mundo; o país mais rico do planeta; o povo com mais recursos, tanto tecnológicos, como humanos, como naturais. Permitiu-se criar fortunas privadas estratosféricas, através da especulação financeira e económica, mas também através da fraude bancária indiscriminada, ao mesmo tempo que o Estado americano se encarregava de assumir uma divida monstruosa, eterna e sem limite, a pagar por todos os americanos que fazem do trabalho vida, e da vida encargo, destinado a pagar impostos a um Estado, que é mãe de alguns e padrasto de quase todos. Um país riquíssimo, criador de cinquenta milhões de pobres e excluídos, e muitos milhões de remediados, que vivem o seu dia a dia, chupados por um sistema neoliberal sem escrúpulos, nem falta de avidez. Que perspectivas poderá ter um povo, cujo próprio Estado o descrimina?
Poder-se-á apelidar de desenvolvimento, a situação interna da Arábia Saudita? Coio de fundamentalistas religiosos, que nadam em petróleo e petrodólares. Palácios e mesquitas das mil e uma noites, ao lado das casas de habitação social de milhões de desempregados. Elites podres de ricas, que vão sugando os recursos de uma terra que pertence a todos, mas que só é usufruto de alguns. Marcados por anátemas culturais da idade média, que fazem da mulher ente inferior e humilhável, da religião instrumento de ditadura e da riqueza foco de extrema clivagem entre aqueles que pertencem ao círculo do poder e os outros que vivem no limiar da pobreza. O que será deste povo, quando o petróleo faltar? Irão voltar a apascentar camelos? Se calhar serão mais felizes.
Antes da crise das dívidas soberanas, quase todo o mundo pensava que a Grécia era um exemplo de desenvolvimento imparável. Afinal, em 2004, permitiu-se organizar os Jogos Olímpicos; obras faraónicas de regime foram edificadas; suportavam gastos militares enormes para um país de população reduzida; e os salários, principalmente do seu funcionalismo público eram generosos. Quando a máscara caiu, a verdadeira natureza etérea da sua economia revelou-se. 
Uma fraude enorme das suas contas públicas; corrupção generalizada nas suas elites políticas e económicas; uma divida imensa ao exterior. E a tragédia grega da fome e da miséria abateu-se em cima daquele desgraçado povo. Mas também se revelaram falsas e desajustadas as políticas de desenvolvimento da CE; grandes responsáveis por incentivo, conluio e cumplicidade; grandes responsáveis por introduzirem políticas neoliberais na Europa, que desestruturaram as economias mais frágeis; grandes responsáveis porque apesar conhecerem as debilidades do país, não tiveram pejo em incentivar o seu endividamento para que as grandes multinacionais europeias auferissem grandes proventos. Mas essa culpa, não os impediu de enviar as Troikas, fazer o seu papel de carrascos e de destruição dos restos de independência que ainda sobrasse. É este pseudo-desenvolvimento, que privilegia os lucros para os grandes grupos económicos da Europa, já nós conhecemos. Significa pobreza, retrocesso, austeridade e emigração e está a submergir a Europa.
Querem ouvir falar de um país e desenvolvimento? A Islândia. 
Aquela, daqueles que se atreveram a esclarecer peremptóriamente ao Mundo: Não pagamos. Não suportamos, nem suportaremos o custo das fraudes bancárias, e neste bocado de terra mandamos Nós! E sabem porque é que é um país desenvolvido projectado para o futuro? Porque os seus recursos económicos e financeiros estão ao serviço das populações e não de elites predatórias. Porque o seu esforço e o seu trabalho são utilizados não só na sua existência, mas também na preparação da melhoria do seu futuro. Infraestruturas, educação, investigação; preservação de recursos, desenvolvimento produtivo, qualidade de vida das populações. E agora disseram Não à entrada para a CE! Não estão interessados em ser destruídos. Perceberam?