22/09/2015

O “senhor do banco” morreu

Longe vai o tempo em que o “senhor do banco” se preocupava em escolher corretamente os investimentos que apresentava aos seus clientes.

Os produtos financeiros que existiam eram devidamente explicados e raramente se encaminhava um cliente com poucas posses para investir num qualquer produto financeiro de risco, cuja sua complexidade não seria percetível pelo subscritor. A isto chamava-se ética profissional e é algo que desapareceu nos anos 80.
A evolução dos mercados financeiros e a sede pelo capital tornou as instituições financeiras em nichos de vampiros sedentos por efetuar investimentos com dinheiro que não têm. Gradualmente o “senhor do banco” foi abandonado, colocado numa prateleira e substituído por comerciais que para além de terem pouco conhecimento sobre os diversos produtos financeiros que comercializam, mais parecem feirantes a tentar obrigar os seus clientes a subscrever qualquer coisa por mais inútil que seja.

O “senhor do banco” desapareceu e começamos a ser contactados por teleoperadores, que nos apresentam campanhas inundadas de banha da cobra onde nos tentam convencer de que determinado produto financeiro foi feito mesmo à nossa medida, sem que nunca nos tenham visto à frente e muito menos tenham perdido 5 minutos a analisar o nosso perfil enquanto investidor. O “senhor do banco” morreu e com ele levou toda a estrutura bancária, os alicerces que sustentavam um crescimento sustentável do sistema financeiro.
Nos dias de hoje o que importa aos balcões dos Bancos é conseguir alcançar os objetivos trimestrais, que lhes são apresentados pelas hierarquias superiores. 
Deixou de interessar ter pessoas competentes a receber os clientes, o que importa é ter bons vendedores mesmo que não tenham conhecimento algum sobre o funcionamento do produto financeiro que apresentam à sua carteira de clientes. 
 Se é necessário atingir 20.000 euros em novas subscrições em Seguros de Capitalização, a informação que é passada aos clientes é mínima e a comparação com os Depósitos a Prazo é uma constante, mesmo sendo um produto completamente diferente e onde o cliente pode perder algum do valor inicialmente entregue caso necessite de reaver o seu dinheiro num curto espaço de tempo. De facto estes novos comerciais não enganam, apenas ocultam diversos pormenores para conseguirem atingir os objetivos estipulados e dessa forma terem direito a uma comissão extra. 
O ridículo da situação e desconhecimento é tanto, que sempre que é feita uma questão mais específica sobre um qualquer evento que tenha acontecido num determinado produto financeiro da nossa carteira de investimento, estes comerciais têm de registar um pedido para ser respondido pelos serviços centrais responsáveis pelo produto. O “senhor do banco” ao morrer, levou com ele todo o conhecimento bancário e apenas deixou no seu lugar pequenas sanguessugas que atuam consoante os objetivos que lhes são apresentados. Analisar o perfil dos seus clientes é coisa do passado, o pouco tempo que têm no seu dia de trabalho serve apenas para efetuar o maior número de contactos possíveis para no final desse mesmo dia apresentar “vendas” satisfatórias ao Gerente de Balcão e dessa forma talvez consiga manter o seu posto de trabalho.
Os lesados deste sistema financeiro ganancioso não são apenas os antigos clientes do BES, BPN ou BPP, mais sim também milhares de pessoas que são clientes de outras instituições financeiras. Os restantes Bancos possuem milhões de euros em aplicações financeiras de alto risco, em que as rentabilidades podem ser nulas ou mesmo negativas levando os seus clientes a perder parte do valor investido, mas onde esta informação nunca foi passada na totalidade aos subscritores dos produtos.
O sistema financeiro entrou em colapso devido à ganância e investimentos ruinosos feitos pelas instituições financeiras, para alimentarem determinadas famílias sabendo de antemão que o negócio era ruinoso. A teoria capitalista do lucro fácil começou a virar-se para contra os próprios feiticeiros e cabe a todos nós, comuns cidadãos do mundo, impedir que nos escravizem para continuarem a alimentar este sistema financeiro que apenas serve o interesse de terceiros e nunca do povo.