"Quero
sossegar V. Exa. acerca das medidas que o meu governo vai tomar no
sentido de garantir a estabilidade do sitema financeiro.
São elas:
impedir que qualquer amigo de V. Exa funde ou administre bancos; propor
um aditamento à Contituição que impeça V. Exa. de fazer considerações
acerca dos bancos nos quais os portugueses podem ou não confiar."
Exmo. Sr. Presidente da República,
Após leitura atenta das seis condições que colocou para a minha indigitação como primeiro-ministro, posso garantir-lhe o seguinte:
a) Quanto à aprovação das moções de confiança, pode ficar descansado. Não lhe escondo que os meus acordos com os outros partidos são frágeis. Há, sem dúvida, divergências bastante profundas, e por vezes é complicado divisar um único ponto de encontro. Mas, nas alturas mais difíceis, PS, PCP, BE e PEV lembram-se da única questão na qual estão cem por cento de acordo: que V. Exa é tragicamente incapaz. Ninguém nos tira essa sólida base de entendimento, sobre a qual pretendemos edificar lindas convergências;
b) Quanto à aprovação de orçamentos de Estado que ainda não são conhecidos, os três partidos comunicaram-me que desejam tomar como inspiração o seu exemplo de aprovar cegamente orçamentos de Estado, inclusivamente inconstitucionais, mas de uma forma um pouco menos irresponsável. Dizem que gostavam de ler os documentos antes de os aprovarem, se V. Exa. não se importa. Por outro lado, ficamos à espera que se submeta à mesma obrigação, em nome da estabilidade: que aprovará sem questionar qualquer orçamento que lhe apresentarmos. Aquele que estamos a preparar contém uma alínea muito gira sobre a reforma do Presidente da República. Acreditamos que apreciará a poupança que ali propomos;
c) Acerca do cumprimento das regras de disciplina orçamental, estamos em condições de garantir o seguinte: o meu governo respeitará tanto os tratados europeus quanto o governo anterior respeitou a constituição. Sendo V. Exa. um admirador da governação de Passos Coelho, cremos que apreciará a minha;
d) Em relação ao respeito pelo nosso compromisso com a NATO, e após conversa telefónica com o deputado Jerónimo de Sousa, posso dar-lhe a seguinte garantia: a consideração do PCP pela NATO é tão grande que os comunistas portugueses vão propor aos seus velhos camaradas do leste europeu a reactivação do Pacto de Varsóvia, só para que a NATO tenha o prazer de voltar a extingui-lo. Esta extinção do Pacto de Varsóvia pela NATO terá uma periodicidade semanal;
e) No que diz respeito ao papel do conselho permanente de concertação social, deixo-lhe outra promessa: o meu governo não tratará qualquer interluctor como "força de bloqueio". Esses tempos negros de falta de diálogo já passaram.
f) Por último, quero sossegar V. Exa. acerca das medidas que o meu governo vai tomar no sentido de garantir a estabilidade do sitema financeiro. São elas: impedir que qualquer amigo de V. Exa funde ou administre bancos; propor um aditamento à Contituição que impeça V. Exa. de fazer considerações acerca dos bancos nos quais os portugueses podem ou não confiar.
Creio que estas garantias satisfarão V. Exa.
Agora, e como dizia o outro, deixem-me trabalhar.
Atentamente,
António Costa
por Ricardo Araújo Pereira na Visão