Lá vamos nós, outra vez. Agora é o Banif.
Passamos de pátria de navegadores a país de socorros a náufragos da
banca. Afinal, sobre a estabilidade do sistema financeiro, não era ao
António Costa que o Cavaco tinha que pedir garantias. Era ao outro
Costa.
Já sabemos que o BES não é o BPN, e que o
Banif não vai ser o BES e não tem nada a ver com o BPN. Cada caso é um
caso mas acabam todos na mesma: pagamos nós.
Eu estou farto de ter bancos. Começa a
ser demasiado. Já salvava um “snack-bar” só para variar. Sempre bancos,
acaba por ser dispendioso e monótono. Preferia tentar salvar o
rinoceronte branco da extinção que o centauro do Banif. Nós somos a
parte besta do símbolo do Banif. O banqueiro lá anda, de peito feito,
sabendo que há uma cavalgadura que o suporta. E não o podemos deitar
abaixo porque caímos com ele. Já aqui defendi que salvar a Mercearia
Esperançosa da Palmeira ou o “snack-bar” O Caiaque devia fazer tanto
sentido como salvar o Banif. E sai mais barato.
Dizia Luís Amado, presidente do Banif, a 6
de Dezembro de 2015, sobre o novo Governo: “Um país com a dívida que
nós temos não pode embarcar em visões muito facilitadoras”. Eu também
acho. Não vamos facilitar, a começar pelo Banif. O Luís Amado em vez de
ir à rádio, e televisão, dar palpites como governar o país, devia
embarcar com a sua equipa do Banif, no bote com um furo, e explicar que
não dá para ter visões muito facilitadoras. Espero que o Luís Amado
apanhe um susto que fique com o cabelo todo preto.
Quem foi surpreendido com isto do Banif
foi o Marques Mendes. Na SIC, o sempre alerta Mendes falou sobre o jovem
Renato Sanches do Benfica e disse zero sobre o Banif. Eu até fui
espreitar o trio de ataque para ver se o João Gobern fazia alguma
crítica ao Luís Amado. Eu parto do princípio que se Marques Mendes não
sabia é porque não aconteceu.
Para muitos não é surpresa. O Banif é
mais uma prenda deixada pelos recém-separados PàF e pelo seu mordomo no
Banco de Portugal. Agora divorciam-se e ninguém tem culpa. Acho que o
país não aguenta mais uns lesados da banca. – “Vais à manif do Banif?” –
“Não posso, tenho lesados do BES às oito”. Não se pode viver assim.
Segundo as notícias, o Banif tinha
interessados na compra, mas o anterior Governo não avançou com concurso.
O Sérgio Monteiro não tem tempo para tudo. Era de esperar que o
anterior Governo, de Passos e Portas, responsável, entre outros, pela
reforma do Estado e pela venda do Novo Banco, tivesse deixado uma
solução para o problema, como por exemplo, uma subscrição pública para
ajudar na defesa dos lesados do Banif. Ou então, se calhar, a opção do
ex-Governo foi deixar correr. Eles não nos pagam, “é dinheiro que está a
render”, como disse o ex-PM. Portanto, enquanto eles não nos pagarem é
dinheiro que rende a bom juro. Só temos de esperar e ficamos ricos.
João Quadros, in Jornal de Negócios