Este texto foi um trabalho de Natal da Bárbara Mota, de 12 anos, para a escola.
O tema era o Natal, mas a Bárbara acaba por questionar muita coisa sobre relações humanas, e se o estamos a publicar aqui, é porque vale mesmo a pena ser lido.
Este "trabalho escolar" não foi adulterado, e está a ser publicado por nós com autorização da mãe, Ana Teresa Mota.
"A minha filha de 12 anos já sabe tudo o que eu tinha para lhe
ensinar. Já percebeu tudo o que era importante que eu lhe explicasse. O
meu trabalho está feito, agora posso encostar-me e apreciar. Aqui fica o
texto do meu génio para a festa de Natal da escola."
"Natal
Esta palavra é associada a vários temas, a presentes, a religião, a magia e, essencialmente, a um espírito que esta época desperta. O espírito de solidariedade. De partilha. De compaixão. O que é pena é que seja só nesta época fugaz que nos lembramos disso. Depois, já ninguém se lembra. O espírito natalício fica guardado com as decorações da árvore. E isso não deve, em caso algum, acontecer.
Somos seres
vivos. Conjuntos de átomos como todos os outros que habitam o nosso belo
planeta. Dizemos que nos distinguimos deles por sermos racionais. No
entanto, somos menos racionais que eles.
Os animais são capazes
de fazer coisas, pequenos gestos, que os seres humanos não são. Os
humanos até se dividiram em "raças". Decidiram escravizar-se uns aos
outros, torturarem-se por prazer ou sem qualquer motivo, roubar,
prender, matar, magoar. Somos uma só espécie. Mais nenhuma espécie faz
isto. Nunca nenhum búfalo enviar outros búfalos para um sítio onde os
torturavam e gaseavam sem motivo. Um animal não ataca animais da mesma
espécie, a despropósito. Nós sim. E é isso que faz de nós racionais? Se
é, eu não quero ser racional.
Por isso, os humanos inventaram as
distinções sociais. Para que não nos fosse tão difícil ver um humano em
sofrimento. Porquê? Porque não são "iguais a nós". Porque "não são da
nossa raça"
É mentira. Homens, mulheres, idosos, crianças,
adolescentes, com uma carreira ou sem ela, ricos, pobres, politeístas,
monoteístas, ateus, agnósticos, ruivos, louros, morenos, carecas,
cabeludos, com olhos azuis, verdes, castanhos, pretos, de óculos, com
franja, sem franja, altos, baixos, gordos, magros, com sardas, pálidos,
bronzeados, negros, aos quadradinhos, somos todos de um só tipo.
Espécie, raça, chamem-lhe o que quiserem. Somos todos iguais. Somos
todos humanos."
Bárbara Mota, 12 anos.